«Ao contrário do que acontece em Proust, no romance do irlandês William Trevor o tempo não se recupera. Passa, modifica-se, faz doer, dulcifica-se e, por fim, mesmo por fim, quando já não há nada a esperar, cristaliza-se numa serenidade que tem tanto de aceitação da vida como de aceitação da morte. Mas nunca devolve o que roubou. "A História de Lucy Gault" é a história de uma perda irreparável. Só a suprema arte da discrição do autor impede que caia no patetismo. A ferida permanece aberta, mas deixa de ser lacerante. Está lá, simplesmente, do mesmo modo que o defeito no andar que ficou a Lucy da queda sofrida naquela noite de fuga.»
Regina Louro fala assim de "A História de Lucy Gault", que a Temas e Debates editou em Novembro último. O cenário é a Irlanda, em 1921, e o capitão Gault sente na pele o castigo pelo casamento com uma inglesa. Como última solução, a fuga, mas como dizer isso a uma menina de 6 anos, que sente ir deixar para trás todo o seu mundo?
O Atiçador de Wittgenstein, ou A História de uma Discussão de Dez Minutos entre Dois Grandes Filósofos. Ou, como se pode ler numa introdução ao livro, «Em 1946, numa sala de Cambridge cheia de gente, Ludwig Wittgenstein e Karl Popper encontraram-se frente a frente pela primeira vez. E o encontro não correu nada bem.» Para além das palavras arremessadas, correram boatos de que até atiçadores teriam servido de armas de luta... Os jornalistas David Edmonds e John Eidinow lançaram-se à descoberta do que de facto aconteceu nesse dia, e apresentam também retratos destes filósofos, bem como as correntes filosóficas que nos legaram. Desidério Murcho entrevistou os dois autores e apresenta o livro. Uma edição da Temas e Debates.
«No livro "Il vecchio con un piede in Oriente", Tonino Guerra fala-nos de uma das suas viagens à Rússia, de um passeio com Paradjanov, à procura de igrejas abandonadas. De vez em quando surpreendiam-se ao encontrar velas acesas nos muros em ruínas. Entraram numa igreja escura, que tinha nas paredes frescos mais ou menos destruídos pela humidade. Um grande S. Jorge, montado num cavalo branco, dava o golpe mortal no dragão. Na escuridão imóvel da igreja algo aconteceu.»
Volta-se a falar de Tonino Guerra no pilha, por ocasião desta crónica de Ana Teresa Pereira. Nela não surge O Mel, mas por lá passam O Livro das Igrejas Abandonadas e Il Viaggio, do qual se diz «nunca conheci outro escritor que dedicasse um livro a um rio.» Ora aqui está um que eu gostava de ver traduzido...
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