sexta-feira, agosto 20, 2004

Linguagem Seinfeld

«Ainda não consigo acreditar que este livro está numa livraria. Adoro livrarias. Uma livraria é uma das poucas certezas que temos de que as pessoas ainda pensam. E gosto da forma como separam ficção e não-ficção. Dito de outra forma, dum lado põem as pessoas que estão a mentir e do outro as que não estão a mentir. Era assim que o mundo devia ser.

- Olá, sou o Jerry Seinfeld. Sou ficção.
- Eu sei.
- Como é que sabe?
- Porque eu sou não-ficção.

Também acho as livrarias um laxante maravilhoso. Não sei por que razão. Não sei se é do silêncio ou se é por haver lá tantas coisas para ler, mas quando se entra numa livraria há qualquer coisa que acontece. Acho que deviam tirar alguns corredores e pôr umas casas de banho bonitas para homens e senhoras ao fundo, e então as livrarias passariam a ser um sítio fantástico para se visitar.
Acho que o maior problema das livrarias é terem pouco espaço ao pé das caixas para vender coisas. Devem achar que é a única zona de vendas realmente boa. Devem pensar: «A única maneira de nos livrarmos deste livro é aproveitar quando os clientes têm o dinheiro na mão.» Porque não dão uma caixa registadora a cada empregado e os mandam seguir cada cliente? Quando vissem alguém pegar num livro, iam por trás, abriam a máquina, «cha-ching», e o cliente voltava-se e dizia: «Bem, como já abriu a caixa...»

Acho que o principal concorrente do livro é o vídeo porque, por uma razão qualquer, as pessoas pensam que têm de chegar a casa com um bloco rectangular de uma coisa qualquer, cujo fim desconhecem. A grande vantagem do livro é que é muito fácil de rebobinar. Basta fechá-lo e estamos outra vez no princípio.

Deve ser frustante trabalhar numa livraria. Vêem uma pessoa entrar, passar lá duas horas e sair sem levar nada. Devem ter vontade de explodir - dar um empurrão no cliente, quando sai, e dizer-lhe: «Então, já sabe tudo? Não precisa de nada daqui? Deve haver alguma coisa aqui em que pelo menos esteja interessado. Afinal, porque é que entrou aqui? Não precisamos de si, sabe?»

Afinal, bem vistas as coisas, uma livraria é isso mesmo. É uma loja «mais esperta do que você». E é por isso que as pessoas se sentem intimidadas - porque, para entrarem numa livraria, têm de admitir que há qualquer coisa que não sabem.

E o pior de tudo é que nem sequer sabemos onde é que ela está. Entramos numa livraria e temos de perguntar: «Onde é que está isto? Onde é que está aquilo? Não só me faltam conhecimentos, como não sei onde hei-de ir arranjá-los.» Por isso, ao entrar numa livraria, estamos a admitir perante toda a gente que não somos lá muito espertos.

É impressionante. A sério.»

da introdução do livro Linguagem Seinfeld, de Jerry Seinfeld (trad. Maria do Carmo Figueira), Gradiva, 4ª edição (Lisboa, Julho 2004), nº 1 da colecção «E agora, para algo completamente diferente», 139 pág., pvp: 11€


Diogo, esta é para ti :)

sábado, agosto 14, 2004

Adivinha quem (Oinc! Oinc!) voltou

No Minimercado Bob
- Papel ou plástico?
- Cheque.
- Tem de escolher.
- Cheque.
- Cheque o quê?
- Vou pagar com cheque.
- O que é que isso me interessa?
- A mim também não. Você é que está sempre a perguntar.
- Porque você não responde.
- Eu estou a responder... Não tenho dinheiro nem cartão de crédito.
- E...?
- E... Nem papel... Nem plástico...
- Seu porco bronco!! Não lhe estou a perguntar como é que vai pagar!! Estou-lhe a perguntar onde é que quer que eu lhe ponha as compras!
- Num saco.

Pérolas a Porcos 2 - Nem Tanto Nem Tão Porco, Stephan Pastis (trad. Jorge Lima), Bizâncio, 125 pág., pvp: 12,50€.

Mais sarcástico que nunca, mais corrosivo, mais estúpido, mais porco!

É o regresso do ano. Ocasião para dizer: nem tanto ao mar, nem tanto ao chiqueiro.

Diz o rato:
- Achas que há uma razão para te acontecerem coisas más na vida?
- Acho... sou estúpido.



E especialmente dedicado aos jogos que já nos deram uma medalha

:)

domingo, agosto 08, 2004

As Aventuras de Sherlock Holmes

Este livro é constituído por doze pequenos contos, em que o grande detective e o seu companheiro Dr. Watson resolvem casos aparentemente sem solução, como por exemplo: a partir de um chapéu velho e de um ganso conseguem descobrir o paradeiro de uma jóia valiosa, roubada poucos dias antes, na "Granada Azul"; tentam lidar com Irene Adler, uma mulher que alegadamente está a chantagear um rei, no “Escândalo na Boémia”; ou ainda, relacionam o estranho emprego de um homem ruivo (transcrever a Enciclopédia Britânica, quatro horas por dia, por um salário extraordinário) com um roubo de um banco, na “Liga dos Cabeças Vermelhas”.

Eu sempre adorei as histórias de Sherlock Holmes (já as li todas!), e diga-se de passagem que foi a partir destas que comecei a apreciar o género policial. Alegadamente o autor baseou-se num dos seus professores de Medicina chamado Joseph Bell (a quem ele dedica este livro), que empregava os mesmos métodos de dedução de Holmes para descobrir o que acontecera com os seus pacientes. Muitos outros autores, incluindo a grande Agatha Christie, basearam-se em Sherlock para criar os seus detectives. Aqui vão duas das frases mais famosas:

“Quando tudo o que for impossivel for eliminado, o resto, mesmo que seja improvável, deve ser a verdade”

“- Há alguma coisa a que queira que eu dê atenção?
- Sim, ao curioso incidente do cão.
- Mas o cão não fez nada!
- Por isso mesmo.”

Nestas doze histórias encontram-se algumas das pessoas que marcaram a vida e carreira de Holmes: Irene Adler, designada por Holmes simplesmente por “a mulher”, a única mulher (ou pessoa) que alguma vez conseguiu enganar Holmes; o inteligentíssimo professor Moriarty, o arqui-inimigo de Holmes, que infelizmente usa todo o seu génio para o mal; Mycroft Holmes, irmão de Sherlock, também ele um génio mas que prefere deixar os “detectivismos” nas mãos do irmão mais novo; os detectives Lastrange e Gregson, da Scotland Yard, que acham os métodos do grande detective no mínimo pouco ortodoxos, mas que no final ficam rendidos com a sua eficácia (ficam também com o crédito dos casos resolvidos, uma vez que Sherlock Holmes não gosta de ficar com os louros); e obviamente o grande Dr. Watson, o grande amigo e companheiro de todas as horas. Se me permitem um desabafo, sempre fui da opinião que os produtores e escritores dos filmes e das séries de TV foram sempre muito injustos com este personagem, fazendo dele um tolo, como se a sua burrice fizesse Holmes mais inteligente por comparação. A verdade é que nos livros ele é essencial porque é ele quem escreve a história – descrevendo os lugares e os personagens com detalhe e sentimento. Claro que quando as histórias foram passadas para o grande e pequeno ecrã, a função de narrador de Dr. Watson já não era necessária, mas não era preciso fazer dele uma personagem quase cómica. É uma pena porque, pensando bem, ele é médico (logo deve ter alguma inteligência), e se fosse tolo Holmes nunca o teria tomado como confidente.

Algo muito interessante é o facto de que enquanto toda a gente adorava Sherlock Holmes, o próprio autor detestava-o – Conan Doyle dizia sempre que o detective era demasiado arrogante para o seu gosto. Por isso, ele pôs Holmes a consumir morfina e cocaína (nessa altura, finais do séc. XIX, eram drogas legais, mas os editores decidiram retirar este vício de Holmes nas edições mais recentes dos contos de Conan Doyle). Mais tarde, farto da adoração do público, matou o detective no conto “O Problema Final”, após um confronto com o arqui-inimigo Professor Moriarty. Os seus leitores não quiseram acreditar, e a revista Strand, que publicava os contos de Sherlock Holmes, teve de persuadir Conan Doyle a ressuscitá-lo. Depois de muita pressão, este cedeu, e Sherlock voltou a viver no “Problema da Casa Vazia”.

Acho também que “As Aventuras de Sherlock Holmes” é recomendável para aqueles que não têm o hábito de leitura, por ser uma colectânea de pequenos contos. Para aqueles que preferem histórias mais longas, recomendo o famosíssimo “Cão dos Baskervilles” (publicado pela mesma editora). Deixem o “Estudo em Escarlate” para último lugar: é a primeira novela com a personagem de Sherlock Holmes e conta o início da amizade entre este e Watson, mas o autor quando a escreveu era ainda jovem e estava a aprender, e por isso a história não é nem forte nem tem as características das seguintes. Este livro foi publicado pela editora Europa-América.

Uma curiosidade final: quando é que o famoso detective disse ao seu amigo “Elementar, meu caro Watson!”? Se respondeu em todos os livros, está enganado: Sherlock NUNCA disse isso a Watson. Esse comentário, assim como o famoso cachimbo e chapéu de Holmes, nunca apareceram nos livros originais de Conan Doyle – só apareceram nas primeiras séries de televisão, e daí ficou a ideia.


Aventuras de Sherlock Holmes”, de Arthur Conan Doyle, editora Matin Claret, 2003, 213 pags, Preço: 5,23 €

Make Like Paper


Leaves are turning brown
all over the ground
leaves make like paper
make like paper sounds







Mark Kozelek

quinta-feira, agosto 05, 2004

e muitas Feiras por todo o Algarve

A Feira do Livro de Portimão está mais uma vez instalada na Zona Riberinha, local que recebe este evento desde 1997. Organizada pela Câmara Municipal de Portimão em colaboração com 3 livreiros locais, a Feira deste ano recebe o público numa área coberta de 400 m2, das 19h30 às 24h00, até 22 de Agosto

A 28ª edição da Feira do Livro da Cidade de Faro também já está aberta ao público. Numa organização da Câmara Municipal, o certame realiza-se até ao próximo dia 15, diariamente de portas abertas das 19h00 às 24h00.

A 3ª Feira do Livro de Vilamoura já decorre nos Jardins do Casino de Vilamoura e aí decorrerá até dia 12 de Agosto. Uma organização do Município de Loulé com o apoio da Delegação Regional da Cultura do Algarve.

A 5ª Feira do Livro de Quarteira, também numa organização do Município de Loulé, decorre de 10 a 21 de Agosto.


Mais informações sobre estas e outras Feiras do Livro por todo o país serão bem recebidas em draculpt@yahoo.com, ou aqui mesmo, no espaço de comentários. Obrigado :)