Numa pequena ilha, em plena época balnear, é cometido um assassínio: a sra. Arlena Marshall é encontrada estrangulada pelo amante Patrick e por Emily, uma outra hóspede do único hotel da zona.
“Algo estava a intrigar Emily Brewster. Era como se estivesse a olhar para alguma coisa que conhecia bem, mas na qual havia algum pormenor que lhe parecia errado.
(...)
Ouviu a voz de Patrick – apenas um sussuro amendrontado. Ele ajoelhou-se junto da figura imóvel, tocou-lhe na mão, no braço...
Num arrepiante murmúrio disse:
- Meu Deus ela está morta! Santo Deus, ela foi estangulada... assassinada!”
Cedo se deduz que apenas os hóspedes do hotel é que poderiam ter cometido o assassínio. E agora, a pergunta fica no ar: quem foi? Talvez o marido de Arlena, o capitão Marshall, por ciúme ao descobrir que ela tinha um amante? Mas o capitão tem um álibi. Talvez a esposa do amante de Arlena, a frágil Christina? Mas ela não teria força suficiente para fazer o estrangulamento. E também se suspeita de Linda, a filha adolescente do capitão, que odiava a madrasta, e Rosamund Darley, uma antiga namorada do capitão, que mente durante o depoimento. E quando o assassínio parecia que iria permanecer não resolvido, eis que aparece Poirot, o grande detective belga, que também estava a passar umas férias merecidas na ilha, com uma solução aparentemente fantástica... e verdadeira.
“- O marido insistiu que a vítima não tinha inimigos, mas não posso acreditar nisso! Eu diria que uma senhora como ela faria ... bem, faria alguns inimigos, e dos bons. Que acha, sir?
- Mas oui, tem toda a razão – respondeu Poirot – mas (...) os inimigos de Arlena são todos mulheres. (...) Parece-me pouco plausível que este homicídio tenha sido cometido por uma mulher. Que diz o médico legista?
- Neasden parece convencido de que ela foi estrangulada por um homem....”
Este é um dos melhores livros escritos por Agatha Christie. Existem histórias escritas por esta autora em que se desconfia/descobre o criminoso no meio do livro, mas não este. Depois de verificar os movimentos de um número de suspeitos mais ou menos credíveis no dia do crime, Poirot junta todos os hóspedes (incluindo o assassino) numa sala, e explica como se deu o crime. A solução final é realmente muito engenhosa. Esta história não inclui a personagem do Capitão Hastings, um grande amigo de Poirot, que costuma contar na primeira pessoa os casos que o detective belga resolve, e cuja interacção com este constitui a nota humorística presente nos livros de Poirot (o Capitão Hastings tem a mesma função do Doutor Watson nas histórias de Sherlock Holmes: é
o contador de histórias e o homem normal ao lado do homem-génio). Assim, quem ocupa o lugar de Hastings neste livro é o coronel Weston, o polícia encarregue do crime, e também Rosamund Darley, uma das hóspedes do hotel; mas na interacção não se encontra a leveza dos diálogos entre Poirot e Hastings, infelizmente. Mas é sem dúvida uma história bastante interessante e um bom livro para ler nas férias. Nota final: este livro já foi adaptado ao grande ecrãn (uma adaptação feliz), com o grande actor Peter Ustinov a interpretar Poirot.
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Morte na Praia», de
Agatha Christie, (trad. José Lourenço), Edições Asa, 1ª Edição, Fevereiro de 2002, 191 págs., pvp: 10€.
texto por Marosifig