sexta-feira, setembro 23, 2005

O Delfim - José Cardoso Pires

«Tomás, o Avô, deitou contas às cinzas e pôs-se a construir a casa sobre as velhas cavalariças que tinham escapado ao incêndio. Teve de fazê-la mais pequenas, imagine-se o desgosto. Dois andares, escada de pedra no pátio de entrada, varanda corrida, hoje sem grades e apenas três potes gigantescos a guardá-la. «Grades para quê, se não há crianças?» perguntava o Engenheiro quando decidiu transformar a sala grande num estúdio de longas vidraças, aberto sobre o terraço. E assim a casa ficava mais ligada ao vale, mais devassada por ele. Mais triste no inverno, quando a chuva saltitava no cimento da varanda, fustigada pela ventania.

O estúdio. Tudo disposto como na noite das apresentações: cobres nas paredes, uma espingarda antiga em cima da lareira. Eu, caçador em visita, Maria das Mercês no lugar que lhe é próprio (sentada no chão, entre revistas - Elle, Horoscope, Flama), o marido estendido no maple e com um braço pendurado para a bebida que repousa em cima do tapete. Música de fundo, e do gira-discos


Retrato de José Cardoso Pires a tinta da china por Júlio Pomar, 1949
in Fotobiografia de José Cardoso Pires, Inês Pedrosa, Pub. Dom Quixote, p.33



O Delfim, de José Cardoso Pires, editado pelas Publicações Dom Quixote, pvp: 15€ (edição normal) e 5,99€ (edição de bolso)


e o filme, realizado por Fernando Lopes

quarta-feira, setembro 07, 2005

Zapping: Borboletas na barriga



«O meu almoço nos dias de trabalho, mais que ser importante pelo reconforto do estômago, é um momento privilegiado para desligar-me das obrigações. Por isso, levo o tupperware, sento-me assim debaixo da árvores num parque cheio de imigrantes ilegais, velhos pervertidos e marginais (ok, talvez não seja assim tão mau). Escolho o banco menos sujo pela praga nojenta que são os pombos da cidade, como a minha refeição frugal e atiro-me ao livro do momento»
escrito por M