Tentei eleger o meu livro preferido de todos os tempos, para começar. Impossível. Cada livro tem uma personalidade própria, pelo que, devido aos meus estados de espírito meteorológicos, tenho com eles uma relação inconstante e imprevisível. Ao fim de algumas horas a matutar, lá consegui reduzir para sete uma lista de dezenas de livros, e de entre esses, finalmente, escolher um.
É um livro que me marcou, quer porque entrou na minha vida no momento certo, quer porque continua a deslumbrar-me, a fascinar-me, a intrigar-me de cada vez que o releio.
O homem mais poderoso do mundo (ao seu tempo) vai-se despindo, diante dos nossos olhos, perante o fantasma de uma morte próxima. Peça a peça, desmonta a sua vida, as suas acções, os seus pensamentos, os seus julgamentos, os seus sentimentos. Conta-nos histórias de guerra e jogos de poder. Histórias de amor e jogos de cama. Fala-nos das glórias e das misérias dos homens, em particular das suas. Fala do horror e da beleza. Diz:
"Acreditei outrora que um certo gosto da beleza substituiria em mim a virtude, saberia imunizar-me contra as solicitações demasiado grosseiras. Mas enganava-me. O amador de beleza acaba por encontrá-la em toda a parte, filão de ouro nos mais ignóbeis veios..." (pág. 19)
E faz-me lembrar Oscar Wilde.
Fala também de livros:
"A palavra escrita ensinou-me a escutar a voz humana, assim como as grandes atitudes imóveis das estátuas me ensinaram a apreciar os gestos. Em contrapartida, e posteriormente, a vida fez-me compreender os livros. (...) Adaptar-me-ia muito mal a um mundo sem livros; mas a realidade não está lá, porque eles a não contêm inteira." (pág. 24)
"O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo: as minhas primeiras pátrias foram os livros." (pág. 34)
Classificar este livro, como aliás, todos os outros, é redutor. Romance histórico? Com certeza. Mas qual é o livro que, mais cedo ou mais tarde, não acaba por sê-lo? Além disso, este livro podia ter sido escrito no séc. II (época em que viveu o protagonista), no séc. XX (quando foi realmente escrito), ou daqui a cem anos, que nem por isso ficava a dever fosse o que fosse à actualidade.
Romance Gay? Pode ser. Mas está escrito no próprio livro: "Um homem que lê, ou que pensa, ou que calcula, pertence à espécie e não ao sexo; nos seus melhores momentos escapa mesmo ao humano." (pág. 57)
Uma autobiografia? Parece, mas não é. Fica-se sem saber se é Marguerite Yourcenar que dá voz ao Imperador Adriano, se é ele que empresta a alma à escritora. Mas chama-se "Memórias de Adriano".
"Memórias de Adriano, seguido de Apontamentos sobre as Memórias de Adriano" (Mémoires d'Hadrien, suivi de Carnets de Notes de Mémoires d'Hadrien, 1974), Marguerite Yourcenar (trad. Maria Lamas), Ulisseia, 12ª edição, Abril 2000, 288 pág.
texto por Astianax
...e também não é por roubar um pássaro ou um livro, que logo dá aos amigos, que o Alba tem as mãos sujas. chartapaciu@gmail.com
quinta-feira, junho 17, 2004
terça-feira, junho 15, 2004
O CÓDIGO DA VINCI - Dan Brown
Robert London é um professor de simbologia de Harvard que, durante uma visita em trabalho a Paris, se envolve numa teia de conspirações perigosas. Ele é acordado pela Polícia de madrugada, porque o provedor do Louvre foi assassinado dentro do próprio museu, e à volta do corpo foram encontrados umas cifras enigmáticas. Robert apercebe-se que a Polícia o considera suspeito principal, e assim, com a ajuda de Sophie Neveu, a neta criptóloga do provedor, inicia uma busca desesperada e cheia de perigos do assassino, ao tentar descobrir o significado real da mensagem cifrada. Os dois, incrédulos, descobrem que esta leva a pistas escondidas nos trabalhos de Da Vinci – pistas visíveis aos olhos de todos, embora bem disfarçados pelo pintor – e que o famoso pintor de Mona Lisa foi membro do Priorado de Sião, uma sociedade secreta que também teve como membros Sir Isaac Newton, Botticelli, Victor Hugo, e mais recentemente, o próprio provedor! No entanto, quanto mais pistas Robert descobre, mais convencido ele fica de que a morte do provedor se deveu a conspirações muito antigas, para manter uma verdade bombástica no segredo dos deuses... E quem é o misterioso Professor, que parece estar sempre um passo à frente na investigação de Robert e de Sophie?
"O Código Da Vinci", de Dan Brown (trad. Mário Dias Correia), Bertrand Editora, 1ª edição (2004), 536 págs., pvp: 17,96€.
Na minha opinião, este livro é simplesmente genial. O ritmo da acção é bastante rápido, os enigmas que levam ao Graal são incrivelmente inteligentes, e existe um número de surpresas e reviravoltas na história até o mistério principal estar resolvido. O autor (Dan Brown) fez sem dúvida uma pesquisa muito extensa na (grande) influência das religiões pagãs no Cristianismo, os primeiros dias desta religião, a lenda do Graal, os Templários e obviamente, na vida e trabalho do artista/cientista Leonardo da Vinci. Para muitos, a teoria alternativa da vida de Jesus, apresentada por Dan Brown, é bastante discutível; mas muitos dos factos revelados no livros são actualmente verdadeiros, e estes elementos estão elaborados na história de tal modo que no final, ficamos a pensar – quanto da história é ficção?
texto por Marosifig
"O Código Da Vinci", de Dan Brown (trad. Mário Dias Correia), Bertrand Editora, 1ª edição (2004), 536 págs., pvp: 17,96€.
Na minha opinião, este livro é simplesmente genial. O ritmo da acção é bastante rápido, os enigmas que levam ao Graal são incrivelmente inteligentes, e existe um número de surpresas e reviravoltas na história até o mistério principal estar resolvido. O autor (Dan Brown) fez sem dúvida uma pesquisa muito extensa na (grande) influência das religiões pagãs no Cristianismo, os primeiros dias desta religião, a lenda do Graal, os Templários e obviamente, na vida e trabalho do artista/cientista Leonardo da Vinci. Para muitos, a teoria alternativa da vida de Jesus, apresentada por Dan Brown, é bastante discutível; mas muitos dos factos revelados no livros são actualmente verdadeiros, e estes elementos estão elaborados na história de tal modo que no final, ficamos a pensar – quanto da história é ficção?
texto por Marosifig
segunda-feira, junho 14, 2004
O PRINCÍPIO DA ATRACÇÃO - Teresa Direitinho
Há umas semanas atrás, chegou um pedido de opinião directamente das Azenhas do Mar, a esta obra de Teresa Direitinho, intitulada "O Princípio da Atracção".
Com a Feira do Livro e muitas outras histórias que se cruzaram ao caminho, o livro lá ficou no topo da pilha, mas sem a atenção prometida e devida. Enquanto esse dia não chega, e para que o pedido não esmoreça por final do prazo de validade, pego nas palavras de Desidério Murcho, que no Mil Folhas da semana passada publicou uma crónica sobre o livro.
As palavras do pilha chegarão num outro dia de sol.
«A Atraente Banalidade da Verdade
Há algo de estranho neste primeiro romance de Teresa Direitinho. Apesar da banalidade da história e da narrativa, e apesar das personagens um tanto ocas, lê-se compulsivamente - como quem lê as memórias francas e muito honestas de uma pessoa sensível mas sem muitas complexidades psicológicas, que sobretudo quer viver feliz num mundo quase infantil. O romance narra de forma directa, sem floreados, e na primeira pessoa, a vida de Laura, dos 13 anos até perto dos 35 - de 1978 a 1999. Talvez a leitura seja compulsiva porque nos vence pela força simples das emoções verdadeiras.
Nada acontece de verdadeiramente extraordinário neste romance. Laura, aos 13 anos, conhece David e Arthur, dois irmãos meio ingleses que vão passar as férias de Verão à propriedade da família no Alentejo. A normal camaradagem de pré-adolescentes livres e saudáveis, longe das grandes cidades, desenvolve-se sem sobressaltos. Entre os três há amizade, partilha, humor e o gosto de viver. Quase parece o idílio dos livros de Enid Blyton. Mas é claro que a paixão está no horizonte e o leitor pergunta-se qual é o desgraçado que vai ficar de fora. A coisa torna-se complicada com a entrada de John, um amigo americano dos irmãos. Agora há dois que ficam de fora.
O romance trata com parcimónia as hesitações amorosas de Laura e a tentativa de manter a amizade com os rapazes. O que ressalta é o enorme bom senso daquela gentinha: entre os 13 e os 18 anos, talvez pareçam sensaborões ao leitor moderno. Contudo, o romance é bastante realista, neste aspecto. Se olharmos para as nossas próprias vidas, não são muito diferentes. E talvez seja este um dos aspectos que tornam a sua leitura compulsiva: não estamos em busca de literatura, mas de uma compreensão alargada da condição humana. Mas, pensando melhor, não é também isso que nos atrai na boa literatura?
Quando chegamos a meio do romance e a protagonista já se apaixonou à vez por dois dos rapazes, conseguindo a proeza de manter a amizade dos outros, começamos a perguntar o que raio poderá acontecer agora. E este é um aspecto que não desilude: o medo de que a história perca direcção e focagem é injustificado. Pelo contrário, o desenrolar da história vai esclarecendo aos poucos o sentido de todo romance: a busca incessante de Laura pela verdade emocional. Ela ama e é amada, apaixona-se e é objecto de paixão, mas quer algo mais: quer verdade.
O romance desenrola-se contra o pano de fundo do Alentejo. Mas a protagonista vive igualmente em Lisboa, visita Londres e o Sul da Inglaterra, vive nos Estados Unidos e visita Áustria e Itália. A música e a ciência, as artes e a literatura estão igualmente presentes. Mas há no uso de todos estes elementos aquela simplicidade banal que caracteriza o romance, e que resulta inesperadamente realista: afinal, para a maior parte das pessoas, todas estas coisas são como adornos para vidas que de outro modo seriam terrivelmente ocas. É como se a angústia, o desespero e o turbilhão que tantas vezes impulsiona a arte e a ciência dos outros fosse uma espécie de bálsamo para espectadores em busca de um sentido morno para as suas vidas banais.
Quem conhece o "Quarteto de Alexandria", de Lawrence Durrell (Ulisseia), reconhece neste romance o mesmo tema: a compreensão da amizade e do amor, daquela amizade funda que partiu da adolescência, daquele amor que desampara e dói. Mas, surpreendentemente, dada a alma fadista nacional, não há neste romance um lado negro: há luz a jorros por todo o lado e a vontade simples da felicidade simples. Olha-se o céu nocturno alentejano povoado de estrelas, mas sente-se apenas a maravilha de se estar vivo, de se ser jovem e de se ter amigos. Esta superficialidade é, de algum modo, chocante. Contudo, é realista.
Este é um romance para quem pertence à geração da autora, e que se revê claramente no tempo histórico retratado. Mas é também um romance especialmente apelativo para os que agora são adolescentes e que poderão aprender com as adolescências de outro tempo. Afinal, os adolescentes estão sempre condenados a ler o que se passa não na sua adolescência, mas na dos que agora são seus pais.
Desidério Murcho, Mil Folhas, Público, 05/06/04»
O Princípio da Atracção, Teresa Direitinho, Oficina do Livro, Agosto 2003 (1ª edição), 396 pág., pvp: 16€
Com a Feira do Livro e muitas outras histórias que se cruzaram ao caminho, o livro lá ficou no topo da pilha, mas sem a atenção prometida e devida. Enquanto esse dia não chega, e para que o pedido não esmoreça por final do prazo de validade, pego nas palavras de Desidério Murcho, que no Mil Folhas da semana passada publicou uma crónica sobre o livro.
As palavras do pilha chegarão num outro dia de sol.
«A Atraente Banalidade da Verdade
Há algo de estranho neste primeiro romance de Teresa Direitinho. Apesar da banalidade da história e da narrativa, e apesar das personagens um tanto ocas, lê-se compulsivamente - como quem lê as memórias francas e muito honestas de uma pessoa sensível mas sem muitas complexidades psicológicas, que sobretudo quer viver feliz num mundo quase infantil. O romance narra de forma directa, sem floreados, e na primeira pessoa, a vida de Laura, dos 13 anos até perto dos 35 - de 1978 a 1999. Talvez a leitura seja compulsiva porque nos vence pela força simples das emoções verdadeiras.
Nada acontece de verdadeiramente extraordinário neste romance. Laura, aos 13 anos, conhece David e Arthur, dois irmãos meio ingleses que vão passar as férias de Verão à propriedade da família no Alentejo. A normal camaradagem de pré-adolescentes livres e saudáveis, longe das grandes cidades, desenvolve-se sem sobressaltos. Entre os três há amizade, partilha, humor e o gosto de viver. Quase parece o idílio dos livros de Enid Blyton. Mas é claro que a paixão está no horizonte e o leitor pergunta-se qual é o desgraçado que vai ficar de fora. A coisa torna-se complicada com a entrada de John, um amigo americano dos irmãos. Agora há dois que ficam de fora.
O romance trata com parcimónia as hesitações amorosas de Laura e a tentativa de manter a amizade com os rapazes. O que ressalta é o enorme bom senso daquela gentinha: entre os 13 e os 18 anos, talvez pareçam sensaborões ao leitor moderno. Contudo, o romance é bastante realista, neste aspecto. Se olharmos para as nossas próprias vidas, não são muito diferentes. E talvez seja este um dos aspectos que tornam a sua leitura compulsiva: não estamos em busca de literatura, mas de uma compreensão alargada da condição humana. Mas, pensando melhor, não é também isso que nos atrai na boa literatura?
Quando chegamos a meio do romance e a protagonista já se apaixonou à vez por dois dos rapazes, conseguindo a proeza de manter a amizade dos outros, começamos a perguntar o que raio poderá acontecer agora. E este é um aspecto que não desilude: o medo de que a história perca direcção e focagem é injustificado. Pelo contrário, o desenrolar da história vai esclarecendo aos poucos o sentido de todo romance: a busca incessante de Laura pela verdade emocional. Ela ama e é amada, apaixona-se e é objecto de paixão, mas quer algo mais: quer verdade.
O romance desenrola-se contra o pano de fundo do Alentejo. Mas a protagonista vive igualmente em Lisboa, visita Londres e o Sul da Inglaterra, vive nos Estados Unidos e visita Áustria e Itália. A música e a ciência, as artes e a literatura estão igualmente presentes. Mas há no uso de todos estes elementos aquela simplicidade banal que caracteriza o romance, e que resulta inesperadamente realista: afinal, para a maior parte das pessoas, todas estas coisas são como adornos para vidas que de outro modo seriam terrivelmente ocas. É como se a angústia, o desespero e o turbilhão que tantas vezes impulsiona a arte e a ciência dos outros fosse uma espécie de bálsamo para espectadores em busca de um sentido morno para as suas vidas banais.
Quem conhece o "Quarteto de Alexandria", de Lawrence Durrell (Ulisseia), reconhece neste romance o mesmo tema: a compreensão da amizade e do amor, daquela amizade funda que partiu da adolescência, daquele amor que desampara e dói. Mas, surpreendentemente, dada a alma fadista nacional, não há neste romance um lado negro: há luz a jorros por todo o lado e a vontade simples da felicidade simples. Olha-se o céu nocturno alentejano povoado de estrelas, mas sente-se apenas a maravilha de se estar vivo, de se ser jovem e de se ter amigos. Esta superficialidade é, de algum modo, chocante. Contudo, é realista.
Este é um romance para quem pertence à geração da autora, e que se revê claramente no tempo histórico retratado. Mas é também um romance especialmente apelativo para os que agora são adolescentes e que poderão aprender com as adolescências de outro tempo. Afinal, os adolescentes estão sempre condenados a ler o que se passa não na sua adolescência, mas na dos que agora são seus pais.
Desidério Murcho, Mil Folhas, Público, 05/06/04»
O Princípio da Atracção, Teresa Direitinho, Oficina do Livro, Agosto 2003 (1ª edição), 396 pág., pvp: 16€
domingo, junho 13, 2004
adivinha quem voltou
foi o Bicho Escala-Estantes, que depois de uma época entre Maio e Setembro do ano passado numa morada muito semelhante, e uma tentativa falhada no weblog, volta agora com mais convivas.
para concordar ou rejeitar, divertir ou chorar. em conversas sempre cheias de livros e livrarias
para concordar ou rejeitar, divertir ou chorar. em conversas sempre cheias de livros e livrarias
sexta-feira, junho 11, 2004
quinta-feira, junho 10, 2004
há Feira até à meia-noite
«Atravesso a rua com o gosto do ar na língua, o silencioso pousar que me ergue do solo até à copa das árvores, o mar respirado, a sede entre o olhar e o tronco - estendo a mão para a terra, o ar: para rir entre as folhas na rua do ar.»
António Ramos Rosa a Respirar a sombra viva, à sombra de um Plátano.
último dia, véspera dos sorrisos de amanhã
venham daí
António Ramos Rosa a Respirar a sombra viva, à sombra de um Plátano.
último dia, véspera dos sorrisos de amanhã
venham daí
quarta-feira, junho 09, 2004
só restam 2 dias de Feira
Parece que alguns orgãos de comunicação social boicotaram a Feira do Livro de Lisboa a ponto de dizerem que esta acabava no Domingo passado. Desinformação, incompetência, ou seja lá o que for, o certo é que nestes dois últimos dias a afluência de pessoas ao Parque Eduardo VII foi claramente menor que nos dias anteriores, e os livros sem pessoas não têm vontade de fazer a festa. Ela vive durante mais dois dias, até à próxima quinta-feira, feriado nacional de 10 de Junho. Venham, juntem-se a nós.
«OS PÉS EM SANGUE
Porque não experimentam deixar-se conduzir pelos próprios pés? Não tenham receio.
Os pés preferem esses caminhos de que ninguém - a não ser as cabras - se serve ainda. Talvez os anime o mesmo espírito dos salmões quando, na altura da desova, procuram as primeiras e definitivas águas.
Não me perguntem onde vos levarão. A única coisa que vos posso assegurar é que se trata de um lugar onde o orvalho é de mil anos.»
Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu, à nossa espera, na Fenda.
«Mesmo num filme sério quando a imagem era cortante de beleza
o teu riso ecoava na sala e a gente culta fazia chiu e voltava
a cabeça para trás. Eu, muito envergonhado, jurava para dentro
de mim que nunca mais te levaria ao cinema. Contudo, ao mesmo
tempo, achava graça haver uma pessoa que achava graça a tudo.»
Helder Moura Pereira verte uma Lágrima na Assírio & Alvim.
«Assim, há trinta e cinco anos que precipito os pacotes numa situação desesperada, risco os anos, os meses e os dias, contando quanto falta para nos aposentarmos, a minha prensa e eu; todas as noites trago, na minha pasta, livros para casa, e o meu apartamento, num segundo andar em Holesovice, está repleto de livros, livros apenas: a cave está cheia e o alpendre já não chega, a cozinha, a despensa e a retrete estão cheias, apenas o caminho para a janela e para o fogão estão livres, na retrete há apenas o espaço para me poder sentar; por cima da sanita, à altura de um metro e meio já há traves e pranchas e em cima delas, até ao tecto, erguem-se os livros, quinhentos quilos de livros; chega um único movimento desajeitado ao sentar-me, um levantar imprudente, para tocar na trave mestra, e meia-tonelada de livros se precipitará sobre mim e me esmagará com as calças descidas. Mas como aqui já não se consegue acrescentar nem um só livro, assim, no quarto, em cima de duas cama juntas, mandei pôr traves e pranchas em forma de baldaquim, de um dossel de cama, sobre as quais estão arrumados livros até ao tecto; trouxe duas toneladas de livros para casa durante trinta e cinco anos, e, quando estou a adormecer, duas toneladas de livros como uma falena de dois mil quilos pesam sobre os meus sonhos.»
Bohumil Hrabal vive Uma Solidão Demasiado Ruidosa na Afrontamento.
até logo, no sítio do costume
«OS PÉS EM SANGUE
Porque não experimentam deixar-se conduzir pelos próprios pés? Não tenham receio.
Os pés preferem esses caminhos de que ninguém - a não ser as cabras - se serve ainda. Talvez os anime o mesmo espírito dos salmões quando, na altura da desova, procuram as primeiras e definitivas águas.
Não me perguntem onde vos levarão. A única coisa que vos posso assegurar é que se trata de um lugar onde o orvalho é de mil anos.»
Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu, à nossa espera, na Fenda.
«Mesmo num filme sério quando a imagem era cortante de beleza
o teu riso ecoava na sala e a gente culta fazia chiu e voltava
a cabeça para trás. Eu, muito envergonhado, jurava para dentro
de mim que nunca mais te levaria ao cinema. Contudo, ao mesmo
tempo, achava graça haver uma pessoa que achava graça a tudo.»
Helder Moura Pereira verte uma Lágrima na Assírio & Alvim.
«Assim, há trinta e cinco anos que precipito os pacotes numa situação desesperada, risco os anos, os meses e os dias, contando quanto falta para nos aposentarmos, a minha prensa e eu; todas as noites trago, na minha pasta, livros para casa, e o meu apartamento, num segundo andar em Holesovice, está repleto de livros, livros apenas: a cave está cheia e o alpendre já não chega, a cozinha, a despensa e a retrete estão cheias, apenas o caminho para a janela e para o fogão estão livres, na retrete há apenas o espaço para me poder sentar; por cima da sanita, à altura de um metro e meio já há traves e pranchas e em cima delas, até ao tecto, erguem-se os livros, quinhentos quilos de livros; chega um único movimento desajeitado ao sentar-me, um levantar imprudente, para tocar na trave mestra, e meia-tonelada de livros se precipitará sobre mim e me esmagará com as calças descidas. Mas como aqui já não se consegue acrescentar nem um só livro, assim, no quarto, em cima de duas cama juntas, mandei pôr traves e pranchas em forma de baldaquim, de um dossel de cama, sobre as quais estão arrumados livros até ao tecto; trouxe duas toneladas de livros para casa durante trinta e cinco anos, e, quando estou a adormecer, duas toneladas de livros como uma falena de dois mil quilos pesam sobre os meus sonhos.»
Bohumil Hrabal vive Uma Solidão Demasiado Ruidosa na Afrontamento.
até logo, no sítio do costume
terça-feira, junho 08, 2004
O JOGO DAS NUVENS - Johann Wolfgang Goethe
"Mas ele, Howard, homem clarividente,
Com a sua doutrina ensinou toda a gente.
O que o céu não retém e o sentido não vê,
Ele primeiro o fixa, e enfim o lê;
Dá forma ao informe, seu domínio estreita,
Com o nome certo - honra lhe seja feita! -
A nuvem sobe, adensa, esgarça, desce,
E o mundo pensa em ti e agradece."
Pág. 80
Como uma reunião de textos que é, este livro separa-se em várias partes. Na primeira, deveras interessante, estão os textos em que Goethe se debruçou sobre a classificação das nuvens, e teorias sobre as suas transformações. No final deste texto damos por nós, inconscientemente a olhar para o céu e a pensar "será stratus? será cirrus?" Quando o nosso entusiasmo está no auge, entramos num entediante díario de formas de nuvens, que custa imenso a passar. Quando estamos à beira de desisitir, somos presenteados com deliciosas poesias.
O Jogo das Nuvens, Johann Wolfgang Goethe, selecção tradução, prefácio e notas de João Barrento, Assírio & Alvim, 2003, 108 páginas
"Se a região superior, com a sua energia dissecante, capaz de absorver e dissolver em si a água, vence a disputa, estas massas concentradas dissolvem-se e desfiam-se nas pontas superiores, elevam-se em flocos e nós vemo-las como cirrus que acabam por desaparecer no espaço infinito. Mas se for a região inferior a vencer, a zona mais propícia a atrair a si a mais densa humidade e a mostrá-la em gotas sensíveis, então a base horizontal do cumulus desce, a nuvem alarga-se e forma um stratus, fica parada ou anda, alternadamente, e acaba por cair na terra sob a forma de chuva, fenómeno que, conjuntamente com o anterior, recebe o nome de nimbus." pág. 75
Este é um livro que certamente agradará a quem estiver realmente interessado em saber mais sobre os jogos que as nuvens brincam por cima das nossas cabeças. Para os meros curiosos, saltem as partes que não interessam!
Com a sua doutrina ensinou toda a gente.
O que o céu não retém e o sentido não vê,
Ele primeiro o fixa, e enfim o lê;
Dá forma ao informe, seu domínio estreita,
Com o nome certo - honra lhe seja feita! -
A nuvem sobe, adensa, esgarça, desce,
E o mundo pensa em ti e agradece."
Pág. 80
Como uma reunião de textos que é, este livro separa-se em várias partes. Na primeira, deveras interessante, estão os textos em que Goethe se debruçou sobre a classificação das nuvens, e teorias sobre as suas transformações. No final deste texto damos por nós, inconscientemente a olhar para o céu e a pensar "será stratus? será cirrus?" Quando o nosso entusiasmo está no auge, entramos num entediante díario de formas de nuvens, que custa imenso a passar. Quando estamos à beira de desisitir, somos presenteados com deliciosas poesias.
O Jogo das Nuvens, Johann Wolfgang Goethe, selecção tradução, prefácio e notas de João Barrento, Assírio & Alvim, 2003, 108 páginas
"Se a região superior, com a sua energia dissecante, capaz de absorver e dissolver em si a água, vence a disputa, estas massas concentradas dissolvem-se e desfiam-se nas pontas superiores, elevam-se em flocos e nós vemo-las como cirrus que acabam por desaparecer no espaço infinito. Mas se for a região inferior a vencer, a zona mais propícia a atrair a si a mais densa humidade e a mostrá-la em gotas sensíveis, então a base horizontal do cumulus desce, a nuvem alarga-se e forma um stratus, fica parada ou anda, alternadamente, e acaba por cair na terra sob a forma de chuva, fenómeno que, conjuntamente com o anterior, recebe o nome de nimbus." pág. 75
Este é um livro que certamente agradará a quem estiver realmente interessado em saber mais sobre os jogos que as nuvens brincam por cima das nossas cabeças. Para os meros curiosos, saltem as partes que não interessam!
domingo, junho 06, 2004
o último fim-de-semana na Feira
Relembro que a Feira foi prolongada por mais 4 dias, o que a vai levar até ao próximo dia 10 de Junho, feriado nacional. Apesar da extensão do programa, hoje é o último Domingo em que haverá livros no Parque este ano, e como tal espera-se muita gente a passear cima abaixo com livros na mão :)
Domingo na Feira, abre a caça ao autógrafo:
- José Abrantes, autor das aventuras do gato Zu, estará no Pavilhão dos Pequenos Editores entre as 15h30 e as 16h30 para autografar as suas duas novas aventuras, "O Crocodilo Chorão" e "Os Anos da Rita", editadas pela Polvo.
- A partir das 16h00 estarão Vasco Graça Moura ("O Enigma de Zulmira")e Pedro Paixão ("Quase Gosto da Vida que Tenho") nos pavilhões 140-142 da Bertrand/Quetzal, Manuel Dias ("Queridos Matadores") no 186 da Miosótis, Manuela Ribeiro nos 134-136 da Ambar, Rosa Lobato de Faria nos 52-55 da Asa, Rui Zink ("Dádiva Divina"), António Lobo Antunes ("Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo") e Rosa Aneiros nos 70-74 da Dom Quixote, Natália Bebiano da Providência ("2+2=11") nos 98-100 da Gradiva e Fátima Ribeiro de Medeiros ("Do Fruto à Raiz") no 158 da Gailivro.
- Às 17 horas realiza-se no auditório 1 a apresentação do livro "Trânsitos de Vénus", da autoria de Nuno Crato, Fernando Reis e Luís Tirapicos, numa edição da Gradiva.
- Ainda às 17h, sessão de autógrafos com Maria Amélia Lemos Alves, no pavilhão 115 da Livraria Municipal. Às 18h é Possidónio Cachapa que estará na Oficina do Livro (9 e 11) e às 18h30 Manuela Nogueira estará no pavilhão 69 da Assírio & Alvim.
- 18h30 é a hora marcada para um Encontro com Escritores, uma conversa entre Maria João Seixas e António Mega Ferreira e todos os presentes, no Auditório 1.
- O livro "Resistência", de Rosa Aneiros e publicado pela Dom Quixote, terá uma sessão de lançamento no Auditório 2, a partir das 19 horas.
- Ainda no Auditório 2, mas a partir das 21h30, decorrerá a apresentação do livro "Carreiras de Saída da Toxicodependência", de Manuel Sommer, editado pela Climepsi.
Domingo na Feira, abre a caça ao autógrafo:
- José Abrantes, autor das aventuras do gato Zu, estará no Pavilhão dos Pequenos Editores entre as 15h30 e as 16h30 para autografar as suas duas novas aventuras, "O Crocodilo Chorão" e "Os Anos da Rita", editadas pela Polvo.
- A partir das 16h00 estarão Vasco Graça Moura ("O Enigma de Zulmira")e Pedro Paixão ("Quase Gosto da Vida que Tenho") nos pavilhões 140-142 da Bertrand/Quetzal, Manuel Dias ("Queridos Matadores") no 186 da Miosótis, Manuela Ribeiro nos 134-136 da Ambar, Rosa Lobato de Faria nos 52-55 da Asa, Rui Zink ("Dádiva Divina"), António Lobo Antunes ("Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo") e Rosa Aneiros nos 70-74 da Dom Quixote, Natália Bebiano da Providência ("2+2=11") nos 98-100 da Gradiva e Fátima Ribeiro de Medeiros ("Do Fruto à Raiz") no 158 da Gailivro.
- Às 17 horas realiza-se no auditório 1 a apresentação do livro "Trânsitos de Vénus", da autoria de Nuno Crato, Fernando Reis e Luís Tirapicos, numa edição da Gradiva.
- Ainda às 17h, sessão de autógrafos com Maria Amélia Lemos Alves, no pavilhão 115 da Livraria Municipal. Às 18h é Possidónio Cachapa que estará na Oficina do Livro (9 e 11) e às 18h30 Manuela Nogueira estará no pavilhão 69 da Assírio & Alvim.
- 18h30 é a hora marcada para um Encontro com Escritores, uma conversa entre Maria João Seixas e António Mega Ferreira e todos os presentes, no Auditório 1.
- O livro "Resistência", de Rosa Aneiros e publicado pela Dom Quixote, terá uma sessão de lançamento no Auditório 2, a partir das 19 horas.
- Ainda no Auditório 2, mas a partir das 21h30, decorrerá a apresentação do livro "Carreiras de Saída da Toxicodependência", de Manuel Sommer, editado pela Climepsi.
sexta-feira, junho 04, 2004
Diários do Torga
Os Diários do Torga. Todos os fascículos velhinhos (16, julgo) condensados em dois consideráveis volumes pela D. Quixote. Dão muito menos jeito para ler na cama ou na praia ;)
O passar dos dias, dos meses, dos anos, da vida. De um homem que foi muito grande em tudo o que fez. As artes médicas para salvar vidas e as artes da escrita para delas cuidar.
Com isso ganhará quem pegar nestes registos, onde se sente o pulsar de um coração gigantesco. E o granito a escurecer com o tempo, também.
Não é um diário. É um diário dos dias em que ele terá sentido a grande necessidade de partilhar o que lhe ia na alma.
Há relatos de dias seguidos e, por vezes, meses de ausência. Mas sempre todos muito a tempo.
Diários para ler e pensar...
O passar dos dias, dos meses, dos anos, da vida. De um homem que foi muito grande em tudo o que fez. As artes médicas para salvar vidas e as artes da escrita para delas cuidar.
Com isso ganhará quem pegar nestes registos, onde se sente o pulsar de um coração gigantesco. E o granito a escurecer com o tempo, também.
Não é um diário. É um diário dos dias em que ele terá sentido a grande necessidade de partilhar o que lhe ia na alma.
Há relatos de dias seguidos e, por vezes, meses de ausência. Mas sempre todos muito a tempo.
Diários para ler e pensar...
quarta-feira, junho 02, 2004
olhós destaques da Feira pra hoje!
António Coimbra de Matos vai estar hoje à conversa na Feira do Livro de Lisboa, numa sessão promovida pela editora Climepsi. O autor de "A Depressão", "O Desespero", "Adolescência", "Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica" e "Mais Amor Menos Doença" estará no Auditório 2 a partir das 18 horas.
Quem passar pelo pavilhão da Cavalo de Ferro (191) a partir das 21h00, poderá entrar no mundo da poesia pela mão de Czeslaw Milosz e de Wislawa Szymborska. "Alguns gostam de poesia" (hoje a livro do dia) é uma antologia de poesia polaca, em edição bilingue, que serve de base à leitura de poesia que alguns poderão gozar esta noite.
Às 21h30 o Auditório 1 recebe o debate O Futuro do Livro / Os Livros do Futuro. Com moderação de Isabel Coutinho, estarão à conversa José Afonso Furtado, José Magalhães e Libório Silva.
«Repetidas vezes fizemos eco dos apelos dos moradores da Brandoa, a cidade-satélite "à margem da lei", a cidade de prédios construídos sem alvará, a cidade sem água, sem luz e de ruas calcetadas a lama».
Uma notícia de jornal sobre a Brandoa de 1969 não será um retrato fiel da que se vive hoje, mas relembra-nos das suas origens e evolução, de que o presente ainda é uma coabitação diária do confronto rural-urbano, com prédios novos a serem construídos constantemente, enquanto a horta do terreno ao lado resiste por mais uns meses.
O paradigma dos não-lugares, um retrato de Diogo Lopes e Nuno Cera, os subúrbios de centros comerciais labirínticos, urbanizações de T1's com lareira, estações de serviço como pontos de encontro preferenciais.
"Cimêncio", para encontrar na Fenda, pavilhão 159.
Miguelanxo Prado mostra-nos, melhor que ninguém, o quão delirante é esta vida do quotidiano, entre funcionários públicos, machismos e lutas de aparências. Enfim, tudo o que passa pelo traço de Prado e nos diz que a monotonia é tudo menos definitiva, tudo depende do ponto de vista.
"A Vida é um Delírio", livro do dia no pavilhão 54, da Asa.
Quem passar pelo pavilhão da Cavalo de Ferro (191) a partir das 21h00, poderá entrar no mundo da poesia pela mão de Czeslaw Milosz e de Wislawa Szymborska. "Alguns gostam de poesia" (hoje a livro do dia) é uma antologia de poesia polaca, em edição bilingue, que serve de base à leitura de poesia que alguns poderão gozar esta noite.
Às 21h30 o Auditório 1 recebe o debate O Futuro do Livro / Os Livros do Futuro. Com moderação de Isabel Coutinho, estarão à conversa José Afonso Furtado, José Magalhães e Libório Silva.
«Repetidas vezes fizemos eco dos apelos dos moradores da Brandoa, a cidade-satélite "à margem da lei", a cidade de prédios construídos sem alvará, a cidade sem água, sem luz e de ruas calcetadas a lama».
Uma notícia de jornal sobre a Brandoa de 1969 não será um retrato fiel da que se vive hoje, mas relembra-nos das suas origens e evolução, de que o presente ainda é uma coabitação diária do confronto rural-urbano, com prédios novos a serem construídos constantemente, enquanto a horta do terreno ao lado resiste por mais uns meses.
O paradigma dos não-lugares, um retrato de Diogo Lopes e Nuno Cera, os subúrbios de centros comerciais labirínticos, urbanizações de T1's com lareira, estações de serviço como pontos de encontro preferenciais.
"Cimêncio", para encontrar na Fenda, pavilhão 159.
Miguelanxo Prado mostra-nos, melhor que ninguém, o quão delirante é esta vida do quotidiano, entre funcionários públicos, machismos e lutas de aparências. Enfim, tudo o que passa pelo traço de Prado e nos diz que a monotonia é tudo menos definitiva, tudo depende do ponto de vista.
"A Vida é um Delírio", livro do dia no pavilhão 54, da Asa.
terça-feira, junho 01, 2004
meme da frase, dizem eles
que o meu amigo J retransmitiu. pego na deixa, estico a ideia e mostro um bocadinho da minha Feira. é assim:
1.Grab the nearest book
2.Open the book on page 23
3.Find the fifth sentence
4.Post the text of the sentence in your journal along with these instructions
«Abandonando por todos os lados a prancha de madeira, os tentáculos escapavam, sinuosos, em todas as direcções; percorriam a superfície do lavadouro, ultrapassavam os obstáculos, voltavam a juntar-se e sobrepunham-se aqui e ali.»
Entre Paris, a Hipotenusa, e de volta a Paris, Jean-Philippe Toussaint consegue falar-nos de uns polacos muito entretidos a esfolar um polvo. Este cenário, obviamente, só poderia encontrar-se num livro intitulado "O Banho" ("La Salle de Bain"). Escrito por Jean-Philippe Toussaint, e para encontrar, obviamente também, na banca duma editora chamada Fenda.
«Neste ponto da minha vida olho para trás e fico horrorizada com a quantidade de papel que gastei. Deve haver com certeza um lugar no inferno para as pessoas que escrevinharam tanto como eu.»
Pior que quem escrevinha, é quem lê os escrevinhanços, e espalha pilhas de livros por tudo aquilo a que chama casa. Pior que isso é passear pelos parques e jardins e ver folhas de letras e letras em vez de folhas. Pior pior pior é gostar.
"A História de Murasaki" é-nos contada por Liza Dalby num livro da Gótica (à nossa espera nas bancas da Difel).
«O senhor Valéry olhou, então, para os pés, e batendo na cabeça, exclamou:
- Que disparate!»
Mas afinal, eles (os sapatos e os pés) estavam certos, ao contrário dos disparatados (que andavam sempre a apontar-lhe os dedos), que tiveram de se contentar em andar com sapatos iguais nos dois pés, o que, convenhamos, é um bocado monótono para quem o faz desde que aprendeu a andar (e antes até, acho eu, que já não me lembro).
Onde está O Senhor Valéry? Essa é fácil, na Caminho, caminhando até chegar ao Parque dos livros.
Té amanhã
1.Grab the nearest book
2.Open the book on page 23
3.Find the fifth sentence
4.Post the text of the sentence in your journal along with these instructions
«Abandonando por todos os lados a prancha de madeira, os tentáculos escapavam, sinuosos, em todas as direcções; percorriam a superfície do lavadouro, ultrapassavam os obstáculos, voltavam a juntar-se e sobrepunham-se aqui e ali.»
Entre Paris, a Hipotenusa, e de volta a Paris, Jean-Philippe Toussaint consegue falar-nos de uns polacos muito entretidos a esfolar um polvo. Este cenário, obviamente, só poderia encontrar-se num livro intitulado "O Banho" ("La Salle de Bain"). Escrito por Jean-Philippe Toussaint, e para encontrar, obviamente também, na banca duma editora chamada Fenda.
«Neste ponto da minha vida olho para trás e fico horrorizada com a quantidade de papel que gastei. Deve haver com certeza um lugar no inferno para as pessoas que escrevinharam tanto como eu.»
Pior que quem escrevinha, é quem lê os escrevinhanços, e espalha pilhas de livros por tudo aquilo a que chama casa. Pior que isso é passear pelos parques e jardins e ver folhas de letras e letras em vez de folhas. Pior pior pior é gostar.
"A História de Murasaki" é-nos contada por Liza Dalby num livro da Gótica (à nossa espera nas bancas da Difel).
«O senhor Valéry olhou, então, para os pés, e batendo na cabeça, exclamou:
- Que disparate!»
Mas afinal, eles (os sapatos e os pés) estavam certos, ao contrário dos disparatados (que andavam sempre a apontar-lhe os dedos), que tiveram de se contentar em andar com sapatos iguais nos dois pés, o que, convenhamos, é um bocado monótono para quem o faz desde que aprendeu a andar (e antes até, acho eu, que já não me lembro).
Onde está O Senhor Valéry? Essa é fácil, na Caminho, caminhando até chegar ao Parque dos livros.
Té amanhã
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