segunda-feira, setembro 27, 2004

sexta-feira, setembro 24, 2004

O Encantador de Palavras

A menina apareceu grávida de um gavião.
Veio falou para a mãe: O gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você vai parir uma árvore para
a gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites
para ser.
Se a gente falasse a partir de um córrego
a gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Urubus conversavam auroras.
Pessoas viraram árvore.
Pedras viraram rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras
têm que rolar seu destino de pedra para o resto
dos tempos.
Só as palavras não foram castigadas com
a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com seus deslimites.

Manoel de Barros

quarta-feira, setembro 01, 2004

Rikardo Arregi



CONVERSAS ENTRE AMIGOS

Quando, a meio de uma conversa entre amigos,
chega o acostumado momento das recordações,
e nos seus lábios ressuscita em claro-escuros
a flor seca do passado, penso surpreendido
que os clássicos tinham razão
quando escreveram com tal subtileza os seus belos tópicos
acerca da fugacidade do tempo,
e sacode-me com violência
a inutilidade destas repetições.

A fugacidade do tempo
não é coisa que me assombre,
mais estranho seria
deter a ordem das horas;
mas ouvir questões
que nos velhos livros já eram velhas
repetidas de forma torpe e presumidamente nova
é coisa que me assusta.


LAGUNEN ARTEKO SOLASETAN

Lagunen arteko solasetan
oroipenen une ohikoa
ailegatzen, eta ezpainetan
iraganaren lore iharra
ilun-argi berpizten denean,
pentsatzen dut harriturik
arrazoi zutela klasikoek
denboraren ihesari buruz,
haien topiko ederrez,
hain sotil izkiriatzean,
eta bortizki barneratzen zait
errepikapen hauen hutsala.

Denboraren iheskortasunak
ez nau asko liluratzen
bitxioaga bailitzateke
orenen ordena gelditzea,
baina zaharren libutuetan
jadanik zaharrak ziren kezkak
manera trakets uste berrian
entzuteak izutzen nau.

Periférica