quarta-feira, junho 09, 2004

só restam 2 dias de Feira

Parece que alguns orgãos de comunicação social boicotaram a Feira do Livro de Lisboa a ponto de dizerem que esta acabava no Domingo passado. Desinformação, incompetência, ou seja lá o que for, o certo é que nestes dois últimos dias a afluência de pessoas ao Parque Eduardo VII foi claramente menor que nos dias anteriores, e os livros sem pessoas não têm vontade de fazer a festa. Ela vive durante mais dois dias, até à próxima quinta-feira, feriado nacional de 10 de Junho. Venham, juntem-se a nós.


«OS PÉS EM SANGUE

Porque não experimentam deixar-se conduzir pelos próprios pés? Não tenham receio.

Os pés preferem esses caminhos de que ninguém - a não ser as cabras - se serve ainda. Talvez os anime o mesmo espírito dos salmões quando, na altura da desova, procuram as primeiras e definitivas águas.

Não me perguntem onde vos levarão. A única coisa que vos posso assegurar é que se trata de um lugar onde o orvalho é de mil anos.»

Jorge Sousa Braga, O Poeta Nu, à nossa espera, na Fenda.



«Mesmo num filme sério quando a imagem era cortante de beleza
o teu riso ecoava na sala e a gente culta fazia chiu e voltava
a cabeça para trás. Eu, muito envergonhado, jurava para dentro
de mim que nunca mais te levaria ao cinema. Contudo, ao mesmo
tempo, achava graça haver uma pessoa que achava graça a tudo.»

Helder Moura Pereira verte uma Lágrima na Assírio & Alvim.


«Assim, há trinta e cinco anos que precipito os pacotes numa situação desesperada, risco os anos, os meses e os dias, contando quanto falta para nos aposentarmos, a minha prensa e eu; todas as noites trago, na minha pasta, livros para casa, e o meu apartamento, num segundo andar em Holesovice, está repleto de livros, livros apenas: a cave está cheia e o alpendre já não chega, a cozinha, a despensa e a retrete estão cheias, apenas o caminho para a janela e para o fogão estão livres, na retrete há apenas o espaço para me poder sentar; por cima da sanita, à altura de um metro e meio já há traves e pranchas e em cima delas, até ao tecto, erguem-se os livros, quinhentos quilos de livros; chega um único movimento desajeitado ao sentar-me, um levantar imprudente, para tocar na trave mestra, e meia-tonelada de livros se precipitará sobre mim e me esmagará com as calças descidas. Mas como aqui já não se consegue acrescentar nem um só livro, assim, no quarto, em cima de duas cama juntas, mandei pôr traves e pranchas em forma de baldaquim, de um dossel de cama, sobre as quais estão arrumados livros até ao tecto; trouxe duas toneladas de livros para casa durante trinta e cinco anos, e, quando estou a adormecer, duas toneladas de livros como uma falena de dois mil quilos pesam sobre os meus sonhos.»

Bohumil Hrabal vive Uma Solidão Demasiado Ruidosa na Afrontamento.


até logo, no sítio do costume

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