“- Pára! (...) Mendelssohn [compositor judeu] é proibido.
- Proibido? Porquê?
Serge não compreende. Mendelssohn é o seu compositor favorito. A sua música é tão viva, tão cheia de sentimento.
(...)
Incrível. À sua frente está o homem que apenas umas poucas horas antes condenara o pai [à morte] com um único gesto indiferente. (...)
- Toca lá qualquer coisinha.
A distracção! Serge pensa no canal. Saltar ou morrer. Aqui, uma única nota desafinada podia significar o fim.
(...)
- Herr Kramer, se me permite, queria pedir uma coisa – grita Serge (...) – O meu papá... eh... pai é também um bom músico.
- So? Onde está? Qual é o instrumento que toca?
- Na barraca 148, Herr Lagerfuhrer. Esta manhã foi seleccionado [para a câmara de gás] e levado pelo Sonderkommando. É um excelente pianista.
- Hmmm... Piano. Vamos a ver.”
(em A Orquestra, de Roger Vanhoeck)
O poema seguinte revela a sensação estranha da paz depois de muitos anos de guerra:
“Recebemos heróis à hora do chá
juntos estavam sentados no sofá
não tinham conversa
nenhuma, eu pus-me a olhar a olhar
Até que ficaram envergonhados
Não sabiam o que haviam de fazer
Com uma paz assim.”
(1945, de Judith Herberg)
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“Lá Longe, a Paz. A guerra em histórias e poemas”; Antologia organizada por Manuela Fonseca e Irene Koenders, Annemie Leysen, Carol Fox; Edições Afrontamento, Lda; 2001; 323 págs.
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