domingo, agosto 08, 2004

As Aventuras de Sherlock Holmes

Este livro é constituído por doze pequenos contos, em que o grande detective e o seu companheiro Dr. Watson resolvem casos aparentemente sem solução, como por exemplo: a partir de um chapéu velho e de um ganso conseguem descobrir o paradeiro de uma jóia valiosa, roubada poucos dias antes, na "Granada Azul"; tentam lidar com Irene Adler, uma mulher que alegadamente está a chantagear um rei, no “Escândalo na Boémia”; ou ainda, relacionam o estranho emprego de um homem ruivo (transcrever a Enciclopédia Britânica, quatro horas por dia, por um salário extraordinário) com um roubo de um banco, na “Liga dos Cabeças Vermelhas”.

Eu sempre adorei as histórias de Sherlock Holmes (já as li todas!), e diga-se de passagem que foi a partir destas que comecei a apreciar o género policial. Alegadamente o autor baseou-se num dos seus professores de Medicina chamado Joseph Bell (a quem ele dedica este livro), que empregava os mesmos métodos de dedução de Holmes para descobrir o que acontecera com os seus pacientes. Muitos outros autores, incluindo a grande Agatha Christie, basearam-se em Sherlock para criar os seus detectives. Aqui vão duas das frases mais famosas:

“Quando tudo o que for impossivel for eliminado, o resto, mesmo que seja improvável, deve ser a verdade”

“- Há alguma coisa a que queira que eu dê atenção?
- Sim, ao curioso incidente do cão.
- Mas o cão não fez nada!
- Por isso mesmo.”

Nestas doze histórias encontram-se algumas das pessoas que marcaram a vida e carreira de Holmes: Irene Adler, designada por Holmes simplesmente por “a mulher”, a única mulher (ou pessoa) que alguma vez conseguiu enganar Holmes; o inteligentíssimo professor Moriarty, o arqui-inimigo de Holmes, que infelizmente usa todo o seu génio para o mal; Mycroft Holmes, irmão de Sherlock, também ele um génio mas que prefere deixar os “detectivismos” nas mãos do irmão mais novo; os detectives Lastrange e Gregson, da Scotland Yard, que acham os métodos do grande detective no mínimo pouco ortodoxos, mas que no final ficam rendidos com a sua eficácia (ficam também com o crédito dos casos resolvidos, uma vez que Sherlock Holmes não gosta de ficar com os louros); e obviamente o grande Dr. Watson, o grande amigo e companheiro de todas as horas. Se me permitem um desabafo, sempre fui da opinião que os produtores e escritores dos filmes e das séries de TV foram sempre muito injustos com este personagem, fazendo dele um tolo, como se a sua burrice fizesse Holmes mais inteligente por comparação. A verdade é que nos livros ele é essencial porque é ele quem escreve a história – descrevendo os lugares e os personagens com detalhe e sentimento. Claro que quando as histórias foram passadas para o grande e pequeno ecrã, a função de narrador de Dr. Watson já não era necessária, mas não era preciso fazer dele uma personagem quase cómica. É uma pena porque, pensando bem, ele é médico (logo deve ter alguma inteligência), e se fosse tolo Holmes nunca o teria tomado como confidente.

Algo muito interessante é o facto de que enquanto toda a gente adorava Sherlock Holmes, o próprio autor detestava-o – Conan Doyle dizia sempre que o detective era demasiado arrogante para o seu gosto. Por isso, ele pôs Holmes a consumir morfina e cocaína (nessa altura, finais do séc. XIX, eram drogas legais, mas os editores decidiram retirar este vício de Holmes nas edições mais recentes dos contos de Conan Doyle). Mais tarde, farto da adoração do público, matou o detective no conto “O Problema Final”, após um confronto com o arqui-inimigo Professor Moriarty. Os seus leitores não quiseram acreditar, e a revista Strand, que publicava os contos de Sherlock Holmes, teve de persuadir Conan Doyle a ressuscitá-lo. Depois de muita pressão, este cedeu, e Sherlock voltou a viver no “Problema da Casa Vazia”.

Acho também que “As Aventuras de Sherlock Holmes” é recomendável para aqueles que não têm o hábito de leitura, por ser uma colectânea de pequenos contos. Para aqueles que preferem histórias mais longas, recomendo o famosíssimo “Cão dos Baskervilles” (publicado pela mesma editora). Deixem o “Estudo em Escarlate” para último lugar: é a primeira novela com a personagem de Sherlock Holmes e conta o início da amizade entre este e Watson, mas o autor quando a escreveu era ainda jovem e estava a aprender, e por isso a história não é nem forte nem tem as características das seguintes. Este livro foi publicado pela editora Europa-América.

Uma curiosidade final: quando é que o famoso detective disse ao seu amigo “Elementar, meu caro Watson!”? Se respondeu em todos os livros, está enganado: Sherlock NUNCA disse isso a Watson. Esse comentário, assim como o famoso cachimbo e chapéu de Holmes, nunca apareceram nos livros originais de Conan Doyle – só apareceram nas primeiras séries de televisão, e daí ficou a ideia.


Aventuras de Sherlock Holmes”, de Arthur Conan Doyle, editora Matin Claret, 2003, 213 pags, Preço: 5,23 €

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