Publicado apenas hoje, dia aqui reservado à comunhão entre os livros e o cinema, a notícia de hoje vem, de facto, com 2 dias de atraso. Isto porque foi na passada 3ª feira que o Diário de Notícias iniciou mais uma colecção de livros de distribuição conjunta com os jornais, a que foi dado o nome de "Os livros do Cinema", intregrada na "Biblioteca DNa". Esta tendência (ou moda), apesar de a colecção do Público já estar com data marcada para terminar, parece assim não dar sinais de esmorecer, e surge agora numa faceta que muito diz a este blog...
Como também já é habitual nestas colecções, para despertar o interesse do consumidor e leitor, a primeira distribuição traz dois volumes pelo preço de um: coube a "Forrest Gump", escrito por Winston Groom e editado originalmente em 1986, a honra de inaugurar Os livros do Cinema, que acabou por calhar também ao delirante "A Laranja Mecânica" ("A Clockwork Orange"), de Anthony Burgess, publicado pela primeira vez em 1962.
Já num "Argumento Adaptado" anterior tinha sido feita referência a "A Laranja Mecânica", na altura a propósito duma antologia de cinema dos anos 70, e é de facto esta obra que me suscita mais interesse:
«Alex, um adolescente de quinze anos, personagem deste romance, inicia com os seus três amigos, uma das suas peregrinações nocturnas com a agressão de um velho a quem rasgam os livros que leva e a quem despojam de vestuário e dinheiro.
Ou, de outro modo: Alex e os seus três drucos, atolchocam um veco estérrico, razesgam-lhe os livros, deixam-no nagoio, sem pleios, e crastam-lhe um malenque do seu denque...
Porque a confissão de Alex - tema deste romance - é feita em «nadescente», a linguagem dos adolescentes de um futuro não muito distante.» pág. 5
E é neste zigue-zaguear entre a história e o glossário no final do livro que as primeiras páginas se vão devorando. Mas à medida que a leitura vai avançando, a gíria e o calão vão-se tornando familiares, ao ponto de acharmos estranho a utilização de palavras como "velho" ou "dinheiro"...
Em 1971, A Laranja Mecânica chegou ao cinema pela mão de Stanley Kubrick (quem mais o poderia fazer?), com a contribuição preciosa de outros dois senhores: Malcolm McDowell absorve a personagem e dá-nos um Alex talvez ainda mais psicótico que o imaginado pelo autor; Walter Carlos, que desde muito cedo explorou as relações entre música e tecnologia científica, desenvolveu no final dos anos 60 um sintetizador especial no qual viria a interpretar as peças clássicas (Beethoven, Rossini) que viriam a fazer parte da banda sonora deste filme.
O resultado é uma experiência alucinante que fica como um dos grandes filmes da minha vida, que me mostrava ser impossível viajar ao mundo de Stanley Kubrick sem que este nos afectasse, para o bem ou para o mal.
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