A Quasi é provavelmente a editora que mais frequentemente muda de distribuidor e, volta não volta, lá regressam à distribuição própria, como agora. A acompanhar esta distribuição directa, a editora (e a sua gémea, a Magnólia), têm-nos trazido novidades de grande craveira, como
O Caminho para a Felicidade, de L. Ron Hubbard (autor do best-seller
Dianética), cuja apresentação diz «A alegria e felicidade verdadeiras têm muito valor. Se uma pessoa não sobreviver, não conseguirá obter alegria nem felicidade». Não podia concordar mais.

Mas o tema principal deste post é uma outra novidade da Magnólia, que dá pelo nome de
O Sexo Depois dos Filhos. Ao ler as notas de capa, poder-se-á pensar que se trata apenas de mais um livro de ajuda sexual, com dicas e conselhos úteis, mas é muito mais do que isso. Quando lemos esta parte da sinopse, que até vem destacada no site, começa-se a desconfiar: «Estar num momento a fazer o jantar e logo a seguir amor, ser mãe e depois amante apaixonada, tudo isto no decorrer de uma única noite, levanta desafios únicos.»
Mas é quando se abre o livro e se lêem passagens ao acaso, que vemos que algo muito estranho se está a passar. Alguns exemplos:
- «Ao contrário do que é definido pela cultura, o amor não é um sentimento. É uma escolha. Escolhemos amar e não amar. Para as mulheres, de modo semelhante, fazer amor é uma escolha. Os nossos maridos sentem frequentemente o sexo como uma urgência motivada por aspectos físicos e hormonais; nós temos uma maior tendência para escolher ter vontade de fazer amor»;
- «A capacidade de escutar é uma das oferendas comunicacionais mais importantes que Deus deu aos casais, pretendendo assim que eles consolidem a sua intimidade. Diz-se que a capacidade de escutar é tão importante que Deus nos fez com apenas uma boca e com dois ouvidos. Ele quer que escutemos a outra pessoa»;
- «Tem mais dificuldades em dar prazer do que em receber prazer? Peça ajuda a Deus para ultrapassar aquilo em que tem mais dificuldades».
Mas há ainda pérolas melhores que estas. Reparai em alguns exercícios que compõem o anexo final, com o título sugestivo de «Guia para Líderes":
- «Identifique uma estratégia que gostaria de colocar em prática, de modo a avançar do acto de fazer rolo de carne para o acto de fazer amor. Pensem, em conjunto, nos pormenores que esta mudança de estratégia iria implicar»;
- «Dê, a cada mãe, um cartão de memória, e peça-lhes para escreverem, em dois minutos, todos os aspectos positivos que lhes surjam sobre os respectivos maridos. Encoraje-as a manterem esses cartões dentro das suas Bíblias ou em algum outro local que as levem a agradecer a Deus, numa base diária, pelas maravilhosas qualidades dos seus maridos».
A autora, Jill Savage, é apresentada como fundadora da Hearts at Home, uma «organização cristã que apoia, prepara e educa as mulheres para a maternidade». Autora de um livro com o sugestivo título de «Professionalizing Motherhood», mas «mais importante, Jill Savage é casada e tem cinco filhos».
Agora que se fala da (má) adaptação de alguns livros ao contexto europeu (e português), é de notar também as referências à Family Life Marriage, encorajando as leitoras a visitar o site e descobrir a localização mais próxima das conferências dadas por esta organização. As mulheres portuguesas poderão começar já a reservar o fim-de-semana de 31 de Outubro a 2 de Novembro, em que a Family Life as espera em Hartford (Connecticut), por apenas 129 dólares por pessoa (uma bagatela, nessa altura já o dólar está ao preço da uva mijona).
Brilhante Jorge, brilhante.