Desde a criação da Edições Nelson de Matos, no início de 2008, que o seu editor tem feito ouvir a sua voz em relação às editoras que publicam para o lucro, sem critério editorial, publicando «porque o autor tem um programa de televisão, é jornalista, é político, é tudo menos escritor». Na sua opinião, «o que se tem de fazer é não misturar as águas, não enganar os leitores. Trabalhar com cuidado e seriedade. Não se pode, por exemplo, publicar a Carolina Salgado ao lado de José Cardoso Pires.»
Estes são dois excertos da entrevista que Nelson de Matos deu ao Sexta, em Abril, que podem ser lidos aqui. Mas que estão perfeitamente actuais.
Anuncia-se agora a publicação do novo livro de Manuel Alegre, Sete Partidas, depois de também já ter saído um livro de contos de Pepetela. Acho muito bem. Principalmente porque reflecte a qualidade do trabalho editorial. Por isso, vamos fazer um pequeno exercício e deixar que os leitores deste blog tentem adivinhar qual das seguintes passagens pertence a José Cardoso Pires (e ao livro Lavagante, encontro desabitado) e a Imogen Lloyd Webber (e ao livro Guia para Meninas Solteiras, Conselhos para miúdas sexy e independentes), dois livros que ficam muito bem lado a lado:
«Digo que Cecília é um punhado de instantes luminosos, dispersos no tempo e arrastados pela voz de um companheiro que a evoca. Mas (interrogo-me) em que medida esses instantes não foram mais do que "o strip-tease intelectual das jovens independentes" (frase de Daniel) e em que medida ele próprio não soube resistir à curiosidade que há em todo o amador e em particular no amador de mulheres?»
«Há outro tipo de amigalhaço que também é fundamental - o Namorado Platónico, um amigo homem que não beijas mas com quem tens um pouco de tensão sexual, e que é possível que desapareça se te envolveres numa relação a sério. Eu adoro Namorados Platónicos. São muito úteis já que tratarão da tua bricolagem e correrão atrás de ti de um modo que nunca fariam se dormisses com eles.»
Há que compreender que, e ainda nas palavras de Nelson de Matos, «Hoje os editores nem sequer lêem os textos». Valha-nos os que lêem.
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