«Estivemos um mês inteiro à janela
com os cotovelos apoiados, a contemplar aquele pedaço de terra
rodeado de sebes. E chegou o verão.
Agora vamos em passeio pelas estradas vazias da aldeia
sem falar e sem olhar um para o outro
como se não fôssemos nós próprios.
Às vezes os lampiões permanecem acesos
até ao meio-dia na praça
porque os do município vizinho
se esquecem de nós
e os candeeiros ao sol
parecem pirilampos enlouquecidos.
As estradas, que calafetadas com pedras
novas faziam escorregar,
são agora suaves tapetes de erva sob nossos passos.
Quando anoitece sentamo-nos no chão
e afagamos a erva das fendas,
rara, como os cabelos de uma cabeça anciã.»
Canto Vigésimo Quinto, de Tonino Guerra (trad. Mário Rui de Oliveira), em "O Mel"
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