domingo, maio 16, 2004

O AMOR DE LONGE - Amin Maalouf

«JAUFRÉ:
A mulher que eu desejo está tão longe, tão longe,
Que nunca os meus braços se fecharão em volta dela.
(...)
É graciosa e humilde e virtuosa e doce,
Corajosa e tímida, resistente e frágil,
Princesa com coração de camponesa, camponesa com coração de princesa,
Com voz ardente cantará as minhas canções...
(...)

COMPANHEIROS:
Essa mulher não existe, diz-lho, Peregrino,
Tu que percorreste o mundo, diz-lho!
Essa mulher não existe!

PEREGRINO (sem pressa):
Talvez ela não exista
Mas talvez também ela exista.
Um dia, no Ultramar, eu vi passar uma dama...»
(pág. 19 a 21)

Basta o Peregrino assim falar para que Jaufré, trovador e príncipe de Blaye, se deixe enamorar por uma mulher que nunca viu e de quem nem conhece o nome. Do outro lado do mar, o Peregrino conta a Clémence como há um trovador que a canta e a mais nenhuma outra. Um amor ao longe, no qual cabem todas as dúvidas e certezas, de beleza e desespero.
Libreto de Amin Maalouf para uma ópera composta pela finlandesa Kaija Saariaho, "O Amor de Longe" conta em cinco actos a história de um amor puro, em que não sabemos se a distância separa ou une os dois amantes.

"O Amor de Longe" ("L'amour de loin"), de Amin Maalouf (trad. António Pescada), Difel 2003 (Éditions Grasset & Fasquelle, 2001), 1ª edição, 88 pág., pvp.: €8

«COROS DAS TRIPOLITANAS:
Pois vós, condessa, não sofreis?
(...)
Não sofreis por nunca nunca sentir a sua respiração na vossa pele?

CLÉMENCE (como que surpresa):
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Talvez que um dia eu sofra, mas pela graça de Deus, não, não sofro ainda
As canções dele são mais do que carícias, e eu não sei se amaria o homem como amo o poeta
Não sei se amaria a sua voz tanto como amo a sua música
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Sem dúvida sofreria se esperasse esse homem e ele não viesse
Mas eu não o espero
(...)
Eu sou o ultramar do poeta e o poeta é o meu ultramar
Entre as nossas duas margens viajam as palavras ternas
Entre as nossas duas vidas viaja uma música...
Não, por Nosso Senhor, que não sofro
Não, por Nosso Senhor, que não o espero
Não o espero...»
(pág. 54, 55)

Ligações para o texto em francês e em inglês, para o Finnish Music Information Centre e o Forum Opéra.

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