"Em defesa da localização da Feira do Livro de Lisboa no Parque Eduardo VII" surgiu um livrinho com textos de Autores diversos, apoiado por várias editoras, em que o sentimento geral é bem expresso por este título de Jacinto Lucas Pires: "Não Tirem os Livros dos Dias de Sol do Parque Eduardo VII".
Vamos no entanto hoje destacar aqui as palavras de Jorge Silva Melo, relembrando que a Feira só agora entrou na 2ª semana, e que foi prolongada por mais 4 dias, permitindo ao Parque receber os livros e as pessoas que neles viajam até dia feriado de 10 de Junho.
«Eu só gosto do Parque Eduardo VII em Maio, nunca lá vou noutra altura. Mas gosto de subir e de descer, sobretudo ao sábado e ao domingo, com gente que nunca vi nas livrarias, gente que mexe em livros, dicionários tantas vezes, livros do dia, livros mais baratos, gente, tanta gente, fico sempre com a sensação que há pessoas, que os livros servem as pessoas, que os editores são gente honesta que quer um mundo melhor, gosto de coleccionar os catálogos, de marcar com cruzinha os livros a comprar, de nem sequer comprar esses mas outros que me aparecem, esquecidos, de encontrar livros insuspeitos que nem sabia estarem editados, gosto de pedir autógrafos, há muitos anos foi lá que falei com a Maria Judite de Carvalho e lhe disse quanto a admirava, gosto de ver os escritores sentados, gosto dos altifalantes a anunciarem escritores e descontos, gosto das farturas que ainda o ano passado engorduraram um livro de poesia acabadinho de comprar e até carote, não me tirem a rua dos livros ao sol, não me fechem a Feira do Livro, deixem-me, uma vez por ano, passear pelo Parque Eduardo VII de todos os jacarandás, ao cair da noite, pela fresca, deixem-me encontrar os amigos, são cada vez menos!, deixem-me queixar-me de já não ter dinheiro, nem espaço em casa para mais papelada, deixem-me voltar para casa com quilos de sacos, deixem-me a minha Feira do Livro onde ela é, é onde todos os anos eu respiro um mundo que talvez fosse maior, com mais gente, mais livros, histórias, poesias, gente a subir e a descer aos sábados à tarde, com tanto calor. E um dia gostava de filmar, porque não filmar a descoberta do amor entre um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em Maio, no Parque Eduardo VII.»
Boas viagens, boas leituras :)
...e também não é por roubar um pássaro ou um livro, que logo dá aos amigos, que o Alba tem as mãos sujas. chartapaciu@gmail.com
domingo, maio 30, 2004
sábado, maio 29, 2004
Fim-de-semana na Feira
A Feira do Livro de Lisboa encontra o fim-de-semana e este traz-lhe múltiplas sessões de autógrafos, para encher o Parque Eduardo VII de escritores e dos seus leitores:
Manuel Paula estará junto aos pavilhões da Gradiva (98 a 100) a partir das 16 horas para assinar o seu livro "Lisboa Gráfica", no qual se pode ler estas palavras do autor:
«Existe uma arte que, embora visível, fica escondida pela rotina do olhar e pela pressa do dia a dia. Dá-la a ver foi a tarefa que me propus. Este trabalho chama a atenção para o imenso património gráfico de Lisboa, vertente ignorada da sua personalidade. Ao recolher em livro imagens dos grafismos da cidade, sublinho elementos esquecidos pela cultura oficial e homenageio um conjunto de artistas artesãos que com o lápis, o pincel e o cinzel desenharam, pintaram, gravaram e emolduraram, com belos efeitos, fachadas, portas, umbrais e bandeiras, enriquecendo a capital.»
À mesma hora, e também na Gradiva, estará Nuno Crato a autografar os seus três livros, o recente "Trânsitos de Vénus" (em co-autoria com Fernando Reis e Luís Tirapicos), "Zodíaco" e "Eclipses" (em co-autoria com António Magalhães, António Cidadão e Pedro Ré).
Continuando o excelente programa que a Gradiva nos proporciona para esta tarde, Eduardo Lourenço estará junto aos pavilhões 98 a 100 para assinar a sua vastíssima obra, com destaque para o recente "Destroços - O Gibão de Mestre Gil e Outros Ensaios", onde se pode ler:
«Em consonância com a visão bíblica da vida como milícia, escrever à margem do puro canto, entrar na batalha das opiniões, das crenças, da ideologia de uma época, por conta do presente ou do passado (ou mesmo do futuro), é ceder à inevitável tentação polémica inscrita no coração dos homens, da sua vida como combate de que a Cultura, mesmo a mais sublimante, é apenas máscara ou imaginário refúgio. Caí nela e não estou arrependido.»
Romana Petri, autora de "A Senhora dos Açores", um dos primeiros livros publicados pela Cavalo de Ferro, estará hoje no pavilhão 191 às 18 horas para autografar este e "Case Venie", recentemente editado.
A partir das 21 horas decorrerá no Auditório 2 a apresentação de "Pequenas Grandes Infâmias", um dos últimos títulos editados pela Cavalo de Ferro, à qual se seguirá uma sessão de autógrafos com o autor, Panos Karnezis, junto ao pavilhão da editora.
Uma última nota para o concerto desta noite: Gabriel Gomes, Pedro Sotiry e Vitor Bandeira apresentam o projecto Tjak a partir das 22 horas, no Auditório 1.
Boas viagens, bom fim-de-semana :)
Manuel Paula estará junto aos pavilhões da Gradiva (98 a 100) a partir das 16 horas para assinar o seu livro "Lisboa Gráfica", no qual se pode ler estas palavras do autor:
«Existe uma arte que, embora visível, fica escondida pela rotina do olhar e pela pressa do dia a dia. Dá-la a ver foi a tarefa que me propus. Este trabalho chama a atenção para o imenso património gráfico de Lisboa, vertente ignorada da sua personalidade. Ao recolher em livro imagens dos grafismos da cidade, sublinho elementos esquecidos pela cultura oficial e homenageio um conjunto de artistas artesãos que com o lápis, o pincel e o cinzel desenharam, pintaram, gravaram e emolduraram, com belos efeitos, fachadas, portas, umbrais e bandeiras, enriquecendo a capital.»
À mesma hora, e também na Gradiva, estará Nuno Crato a autografar os seus três livros, o recente "Trânsitos de Vénus" (em co-autoria com Fernando Reis e Luís Tirapicos), "Zodíaco" e "Eclipses" (em co-autoria com António Magalhães, António Cidadão e Pedro Ré).
Continuando o excelente programa que a Gradiva nos proporciona para esta tarde, Eduardo Lourenço estará junto aos pavilhões 98 a 100 para assinar a sua vastíssima obra, com destaque para o recente "Destroços - O Gibão de Mestre Gil e Outros Ensaios", onde se pode ler:
«Em consonância com a visão bíblica da vida como milícia, escrever à margem do puro canto, entrar na batalha das opiniões, das crenças, da ideologia de uma época, por conta do presente ou do passado (ou mesmo do futuro), é ceder à inevitável tentação polémica inscrita no coração dos homens, da sua vida como combate de que a Cultura, mesmo a mais sublimante, é apenas máscara ou imaginário refúgio. Caí nela e não estou arrependido.»
Romana Petri, autora de "A Senhora dos Açores", um dos primeiros livros publicados pela Cavalo de Ferro, estará hoje no pavilhão 191 às 18 horas para autografar este e "Case Venie", recentemente editado.
A partir das 21 horas decorrerá no Auditório 2 a apresentação de "Pequenas Grandes Infâmias", um dos últimos títulos editados pela Cavalo de Ferro, à qual se seguirá uma sessão de autógrafos com o autor, Panos Karnezis, junto ao pavilhão da editora.
Uma última nota para o concerto desta noite: Gabriel Gomes, Pedro Sotiry e Vitor Bandeira apresentam o projecto Tjak a partir das 22 horas, no Auditório 1.
Boas viagens, bom fim-de-semana :)
quinta-feira, maio 27, 2004
Feira: O'Neill, Vian, estrelas, Wolverine e Mia.
«Na primeira parte desta edição apresentamos duas entrevistas concedidas por Alexandre O’Neill aos jornalistas Adelino Gomes e Joaquim Furtado, em 1983, transmitidas no programa semanal «Ler para Crer», patrocinado pelo Instituto Português do Livro, na Onda Média da Rádio Comercial, além duma conversa gravada em casa do Poeta, em 1986, que deveria constar de uma Antologia da sua obra poética que então organizávamos, num projecto entretanto interrompido. Guardadas até agora em registos magnéticos pessoais, fixámos os respectivos textos e anotámo-los de modo a contextualizar as afirmações de Alexandre O’Neill e a tornar tão abrangente quanto possível a sua leitura.
Para dar a conhecer, ou para relembrar, alguns dos pontos de vista de Alexandre O’Neill através das suas próprias palavras, considerámos, na segunda parte da edição, 14 entrevistas concedidas pelo Poeta a outros tantos jornalistas portugueses, publicadas em jornais e revistas, entre 1960 e 1985.
Dentre as respostas dadas por Alexandre O’Neill aos seus entrevistadores, escolhemos as que julgámos passíveis de uma organização por temas: poesia; surrealismo; «parentescos» poéticos; publicidade; sociedade e consumo; crítica; e vária.»
Alexandre O'Neill está a hoje a livro do dia no stand 10, da Editorial Notícias. Este texto foi retirado da página do Instituto Camões.
«Levar uma pancada na cabeça não é nada. Ser drogado duas vezes seguidas na mesma noite é desagradável mas vá lá... Mas sair para apanhar ar e acordar num quarto desconhecido com uma mulher, os dois com a roupa de Adão e Eva, isso é que já é um bocado forte de mais. Quanto ao que me aconteceu a seguir...» isso só indo ao stand 103, da Relógio d'Água, e perguntar ao senhor Boris Vian, que declara, hoje e sempre, "Morte aos Feios".
Conto estrelas em ti
dezassete vozes,
dezassete modos
de escrever poesia
para crianças e jovens.
no stand 16 infanto-juvenil, da Campo das Letras.
Não tão infantil quanto isso, a viagem de Wolverine ao Japão e ao lar ancestral de Mariko Yashida.
Um magnífico livro de George Pratt, hoje a livro do dia nos stands 188 e 17 infanto-juvenil da Devir.
No stand 87, da Caminho, é Mia Couto quem nos aparece em livro do dia, com "A Varanda do Frangipani", que já vai na 7ª edição.
«A narrativa de A Varanda do Frangipani decorre na Fortaleza de S. Nicolau, algures em Moçambique. A fortaleza há muito que deixou de ser reduto de defesa e ocupação estrangeira para se transformar num asilo de velhos.»
Para dar a conhecer, ou para relembrar, alguns dos pontos de vista de Alexandre O’Neill através das suas próprias palavras, considerámos, na segunda parte da edição, 14 entrevistas concedidas pelo Poeta a outros tantos jornalistas portugueses, publicadas em jornais e revistas, entre 1960 e 1985.
Dentre as respostas dadas por Alexandre O’Neill aos seus entrevistadores, escolhemos as que julgámos passíveis de uma organização por temas: poesia; surrealismo; «parentescos» poéticos; publicidade; sociedade e consumo; crítica; e vária.»
Alexandre O'Neill está a hoje a livro do dia no stand 10, da Editorial Notícias. Este texto foi retirado da página do Instituto Camões.
«Levar uma pancada na cabeça não é nada. Ser drogado duas vezes seguidas na mesma noite é desagradável mas vá lá... Mas sair para apanhar ar e acordar num quarto desconhecido com uma mulher, os dois com a roupa de Adão e Eva, isso é que já é um bocado forte de mais. Quanto ao que me aconteceu a seguir...» isso só indo ao stand 103, da Relógio d'Água, e perguntar ao senhor Boris Vian, que declara, hoje e sempre, "Morte aos Feios".
Conto estrelas em ti
dezassete vozes,
dezassete modos
de escrever poesia
para crianças e jovens.
no stand 16 infanto-juvenil, da Campo das Letras.
Não tão infantil quanto isso, a viagem de Wolverine ao Japão e ao lar ancestral de Mariko Yashida.
Um magnífico livro de George Pratt, hoje a livro do dia nos stands 188 e 17 infanto-juvenil da Devir.
No stand 87, da Caminho, é Mia Couto quem nos aparece em livro do dia, com "A Varanda do Frangipani", que já vai na 7ª edição.
«A narrativa de A Varanda do Frangipani decorre na Fortaleza de S. Nicolau, algures em Moçambique. A fortaleza há muito que deixou de ser reduto de defesa e ocupação estrangeira para se transformar num asilo de velhos.»
terça-feira, maio 25, 2004
Destaques de hoje na Feira do Livro de Lisboa
Duarte Belo (texto) e Jorge P. Pires (fotografias), autores do livro "Alento - Danças Ocultas", estarão junto aos pavilhões 68 e 69 da Assírio & Alvim a partir das 18h30 para uma sessão de autógrafos. O livro estará a livro do dia no pavilhão 69.
A partir das 19 horas, no Auditório 2, decorre a sessão de lançamento de "Romance em Amesterdão", a mais recente obra de Tiago Rebelo, editada pela Presença.
Alguns livros do dia aconselhados para hoje:
"O Último Acto em Lisboa", de Robert Wilson, é um romance policial com dois momentos de acção e dois protagonistas: Klaus Felsen é um membro das SS alemãs que chega a Lisboa em 1941; na mesma Lisboa mas quase 50 anos depois, o inspector da PJ Zé Coelho investiga o assassinato duma jovem. Qual a relação entre eles? A descobrir no pavilhão 100, da Gradiva.
«Essa gente não podia ele sacudir. Essa gente era a razão de ele ter trabalho, a razão de a sua fábrica — a Neukölln Kupplungs Unternehmen, manufactura de atrelagens para comboios — trabalhar em pleno, a razão de ele ter já encomendado a um arquitecto o projecto das ampliações. Era um Förderndes Mitglied, um membro patrocinador das SS, o que significava que lhe era dado o gosto de levar homens de uniforme negro a conhecer a vida nocturna berlinense e eles se encarregavam de lhe arranjar trabalho. Nada que se comparasse a ser um Freunde der Reichsführer‑SS, mas trazia as suas vantagens para o negócio ... e, como estava agora a perceber, as suas obrigações.»
No pavilhão 103, da Relódio d'Água, encontramos a última edição portuguesa de uma das obras de Ortega y Gasset, "Estudios sobre el amor", originalmente publicado em 1941.
«Con la moral corregimos los errores de nuestros instintos y con el amor corregimos los errores de nuestra moral.»
A partir das 19 horas, no Auditório 2, decorre a sessão de lançamento de "Romance em Amesterdão", a mais recente obra de Tiago Rebelo, editada pela Presença.
Alguns livros do dia aconselhados para hoje:
"O Último Acto em Lisboa", de Robert Wilson, é um romance policial com dois momentos de acção e dois protagonistas: Klaus Felsen é um membro das SS alemãs que chega a Lisboa em 1941; na mesma Lisboa mas quase 50 anos depois, o inspector da PJ Zé Coelho investiga o assassinato duma jovem. Qual a relação entre eles? A descobrir no pavilhão 100, da Gradiva.
«Essa gente não podia ele sacudir. Essa gente era a razão de ele ter trabalho, a razão de a sua fábrica — a Neukölln Kupplungs Unternehmen, manufactura de atrelagens para comboios — trabalhar em pleno, a razão de ele ter já encomendado a um arquitecto o projecto das ampliações. Era um Förderndes Mitglied, um membro patrocinador das SS, o que significava que lhe era dado o gosto de levar homens de uniforme negro a conhecer a vida nocturna berlinense e eles se encarregavam de lhe arranjar trabalho. Nada que se comparasse a ser um Freunde der Reichsführer‑SS, mas trazia as suas vantagens para o negócio ... e, como estava agora a perceber, as suas obrigações.»
No pavilhão 103, da Relódio d'Água, encontramos a última edição portuguesa de uma das obras de Ortega y Gasset, "Estudios sobre el amor", originalmente publicado em 1941.
«Con la moral corregimos los errores de nuestros instintos y con el amor corregimos los errores de nuestra moral.»
segunda-feira, maio 24, 2004
a minha Feira ontem
ontem a Feira trouxe-me António Dacosta, em "A Cal dos Muros" (Assírio & Alvim):
«Percorro em ti o que de ti sei
Agora vão pássaro em voo
Espelho de escuras sombras e lago
Idêntico à ovelha que roda
No círculo que a fecha em si
Entre ti e mim despenhados das águas
Que dos montes aos montes tornam
Entre ti e mim uma ilha
......................»
(pág. 93)
No stand 118, do alfarrabista Arquimedes, foi Eugénio de Andrade que veio até mim:
«O verde dos bambus mais altos é azul
ou então é o céu que pousa nos seus ramos»
Quem também andou por lá foi Ondjaki, a dar autógrafos e dois dedos da conversa perto dos stands da Caminho. Em "Bom Dia Camaradas" ouve-se assim:
«Acordei outra vez bem-disposto, porque eu adorava ir aos comícios, aos desfiles.
Bom dia, camarada pai!, disse a brincar, porque o camarada António ainda não tinha chegado. Bom dia, camarada filho!, respondeu-me, bem-disposto como sempre de manhã ele estava. Já havia leite aquecido, a mesa tinha sido posta na noite anterior, abri a janela grande da sala, e assim a claridade entrou naquele espaço, como se fosse alguém desconhecido que entra num sítio também desconhecido e tivesse aquela curiosidade de espreitar.»
(pág. 77)
quem também viaja diariamente pela feira é o J, com encontro marcado no Keine Problem.
«Percorro em ti o que de ti sei
Agora vão pássaro em voo
Espelho de escuras sombras e lago
Idêntico à ovelha que roda
No círculo que a fecha em si
Entre ti e mim despenhados das águas
Que dos montes aos montes tornam
Entre ti e mim uma ilha
......................»
(pág. 93)
No stand 118, do alfarrabista Arquimedes, foi Eugénio de Andrade que veio até mim:
«O verde dos bambus mais altos é azul
ou então é o céu que pousa nos seus ramos»
Quem também andou por lá foi Ondjaki, a dar autógrafos e dois dedos da conversa perto dos stands da Caminho. Em "Bom Dia Camaradas" ouve-se assim:
«Acordei outra vez bem-disposto, porque eu adorava ir aos comícios, aos desfiles.
Bom dia, camarada pai!, disse a brincar, porque o camarada António ainda não tinha chegado. Bom dia, camarada filho!, respondeu-me, bem-disposto como sempre de manhã ele estava. Já havia leite aquecido, a mesa tinha sido posta na noite anterior, abri a janela grande da sala, e assim a claridade entrou naquele espaço, como se fosse alguém desconhecido que entra num sítio também desconhecido e tivesse aquela curiosidade de espreitar.»
(pág. 77)
quem também viaja diariamente pela feira é o J, com encontro marcado no Keine Problem.
domingo, maio 23, 2004
Destaques de hoje na Feira do Livro de Lisboa
António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva estarão hoje nos stands da Asa a partir das 16 horas para autografar a trilogia de Filipe Seems: "Ana" (que hoje é livro do dia no stand 54), "A História do Tesouro Perdido" e o recente "A Tribo dos Sonhos Cruzados".
A adaptação teatral desta trilogia de banda desenhada continua em cena no Teatro Aberto até ao próximo dia 28. O espectáculo começa sempre às 22 horas e está em cena de 4ª a Sábado.
A Relógio d'Água apresenta uma boa selecção de livros do dia: "Contos" (de Oscar Wilde), "Contos" (Virginia Woolf), "Antologia Poética" (Federico García Lorca) e "Tempo de Incerteza" (António Barreto), todos a preços mais acessíveis que em outros dias de feira.
«Tomei o comboio na estação de Castanheira, depois que o Calhau deixou de abraçar. Foi ele que me trouxe no carro de bois de D. Estefânia, em cuja casa, como se sabe, me talharam o destino. Minha mãe veio ainda à igreja, pela madrugada, ver-me partir; mas sentindo-me tão distante como se eu fosse preso, como se eu já pertencesse a um mundo que não era o seu - mal me falou.»
Assim começa a «Manhã Submersa», de Vergílio Ferreira, livro do dia no stand 140, da Bertrand.
No stand 177, das edições Quasi, podemos encontrar Caetano Veloso, com "Letra Só", um conjunto de letras das suas canções, e "Verdade Tropical", que hoje se encontra a livro do dia.
E terminamos a ronda de hoje no stand 99, da Gradiva, onde os indispensáveis Calvin & Hobbes têm sempre presença assegurada. "O Indispensável de Calvin & Hobbes" é livro do dia, para felicidade de miúdos e graúdos.
Boas leituras!
A adaptação teatral desta trilogia de banda desenhada continua em cena no Teatro Aberto até ao próximo dia 28. O espectáculo começa sempre às 22 horas e está em cena de 4ª a Sábado.
A Relógio d'Água apresenta uma boa selecção de livros do dia: "Contos" (de Oscar Wilde), "Contos" (Virginia Woolf), "Antologia Poética" (Federico García Lorca) e "Tempo de Incerteza" (António Barreto), todos a preços mais acessíveis que em outros dias de feira.
«Tomei o comboio na estação de Castanheira, depois que o Calhau deixou de abraçar. Foi ele que me trouxe no carro de bois de D. Estefânia, em cuja casa, como se sabe, me talharam o destino. Minha mãe veio ainda à igreja, pela madrugada, ver-me partir; mas sentindo-me tão distante como se eu fosse preso, como se eu já pertencesse a um mundo que não era o seu - mal me falou.»
Assim começa a «Manhã Submersa», de Vergílio Ferreira, livro do dia no stand 140, da Bertrand.
No stand 177, das edições Quasi, podemos encontrar Caetano Veloso, com "Letra Só", um conjunto de letras das suas canções, e "Verdade Tropical", que hoje se encontra a livro do dia.
E terminamos a ronda de hoje no stand 99, da Gradiva, onde os indispensáveis Calvin & Hobbes têm sempre presença assegurada. "O Indispensável de Calvin & Hobbes" é livro do dia, para felicidade de miúdos e graúdos.
Boas leituras!
sábado, maio 22, 2004
A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto
O aviso vem um pouco em cima da hora, mas fica aqui a nota: decorre hoje na livraria Ler Devagar, a partir das 23 horas, uma sessão de lançamento do 4º volume da série de bd "A Pior Banda do Mundo", da autoria de José Carlos Fernandes.
"A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto" segue-se aos três primeiros volumes ("O Quiosque da Utopia", "O Museu Nacional do Acessório e do Irrelevante" e "As Ruínas de Babel"), que trouxeram ao autor o reconhecimento público que já lhe era devido.
Editados pela Devir, os quatro volumes da série podem ser encontrados no stand 17 infanto-juvenil, da Feira do Livro de Lisboa.
Esta imagem foi retirada da edição on-line da revista Periférica, que na sua última edição em papel, faz a pré-publicação deste livro, com a história "A Insuspeitada Beleza do Teorema de Tutte".
quinta-feira, maio 20, 2004
Começam as Festas de todos os Livros
Chegou a altura do ano em que decorrem em simultâneo as Feiras do Livro de Lisboa e do Porto, semanas em que ir ao encontro aos livros adquire um significado completamente diferente.
Já com um dia de vida, a edição deste ano da Feira do Livro do Porto está de portas abertas até ao feriado de 10 de Junho, num total de 22 dias em que a festa se fará no Pavilhão Rosa Mota. Nas páginas oficiais podemos encontrar uma lista das editoras representadas, bem como a agenda do dia, sempre preenchida com vários lançamentos e sessões de autógrafos, e também a sempre desejada lista de livros do dia.
A Feira do Livro de Lisboa começa apenas amanhã e dura até 6 de Junho, num total de 17 dias de festa no Parque Eduardo VII.
Aqui no pilha-livros acompanharemos mais de perto o certame lisboeta, e faremos destaques e crónicas diárias sempre que possível.
Juntem-se a nós na grande festa das palavras, dos passeios, dos sorrisos e dos livros :)
Foto (Feira do Livro de Lisboa de 2003): Dracul
quarta-feira, maio 19, 2004
A Campo das Letras comemora 10 anos de vida
A editora Campo das Letras comemora durante este mês de Maio dez anos de existência.
Depois de ter inaugurado no início do mês uma nova página na internet, que continua disponível em http://www.campo-letras.pt, esta efeméride é hoje assinalada com uma sessão comemorativa, que terá lugar na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, cidade em que esta editora está sediada.
O espectáculo desta noite terá por base o “Recitativo dos Livros do Deserto”, um texto criado por Pedro Eiras, que será interpretado por João Pedro Vaz (actor) e Helena Caspurro (piano e voz) e que tem início às 21h30.
Também inserida nas comemorações está a edição do livro “10 Contos com Livro Dentro”, uma colectânea de contos originais com um tema em comum: o livro. Os 10 autores participantes têm já livros publicados pela Campo das Letras: Arsénio Mota, Francisco Duarte Mangas, Gonçalo M. Tavares, José Viale Moutinho, Julieta Monginho, Luís Naves, Manuel Córrego, Manuel Jorge Marmelo, Miguel Miranda e Sérgio Luís de Carvalho.
Já com 858 títulos editados até ao momento, são agora anunciadas cinco novas colecções:
- A colecção CAMPO DAS ALTERNATIVAS integrará várias séries temáticas: A Questão Social e Os Géneros do Género (ambas dirigidas por Miguel Vale de Almeida), Outros Olhares (Clara Alvarez), Direitos Humanos (Ana Prata), Desarmamento: Necessidade ou Utopia? (Carlota Lopes da Silva), Exclusões e Mitos Urbanos (João Fatela) e Ecologia e Direitos dos Animais (João Carlos Alvim).
- A colecção CAMPO DAS REVOLUÇÕES será dirigida por João Carlos Alvim e os primeiros títulos previstos para edição retratam alguns aspectos das revoluções Francesa, Bolchevique e Americana.
- A colecção OS LIVROS E A HISTÓRIA trará até nós livros que se transformaram eles próprios em parte da história, tal a sua importância no nosso panorama cultural, político e social. Com direcção de João Carlos Alvim, deverão sair em breve “A Traição dos Intelectuais” (Julien Brenda), “Os Condenados da Terra” (Franz Fannon) e “Discursos à Nação Alemã” (Johann Gottlieb Fichte).
- João Caraça dirigirá a colecção CIÊNCIA E VIDA, que espera editar em breve “Que Futuro? Ciência e Sustentabilidade” (Filipe Duarte Santos), “Consciência do Corpo” (António Manuel Pinto do Amaral Coutinho) e “Pedagogia e Neuropsicologia” (Alexandre Castro Caldas e Berta Bustorff Silva).
- Finalmente, a Campo das Letras vai proceder à reedição das OBRAS DE JACINTO DO PRADO COELHO, já que a grande maioria delas está esgotada há vários anos. Com a organização de Maria João Reynaud, esta iniciativa será também responsável pela edição de alguns volumes de “Dispersos”.
Depois de ter inaugurado no início do mês uma nova página na internet, que continua disponível em http://www.campo-letras.pt, esta efeméride é hoje assinalada com uma sessão comemorativa, que terá lugar na Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, cidade em que esta editora está sediada.
O espectáculo desta noite terá por base o “Recitativo dos Livros do Deserto”, um texto criado por Pedro Eiras, que será interpretado por João Pedro Vaz (actor) e Helena Caspurro (piano e voz) e que tem início às 21h30.
Também inserida nas comemorações está a edição do livro “10 Contos com Livro Dentro”, uma colectânea de contos originais com um tema em comum: o livro. Os 10 autores participantes têm já livros publicados pela Campo das Letras: Arsénio Mota, Francisco Duarte Mangas, Gonçalo M. Tavares, José Viale Moutinho, Julieta Monginho, Luís Naves, Manuel Córrego, Manuel Jorge Marmelo, Miguel Miranda e Sérgio Luís de Carvalho.
Já com 858 títulos editados até ao momento, são agora anunciadas cinco novas colecções:
- A colecção CAMPO DAS ALTERNATIVAS integrará várias séries temáticas: A Questão Social e Os Géneros do Género (ambas dirigidas por Miguel Vale de Almeida), Outros Olhares (Clara Alvarez), Direitos Humanos (Ana Prata), Desarmamento: Necessidade ou Utopia? (Carlota Lopes da Silva), Exclusões e Mitos Urbanos (João Fatela) e Ecologia e Direitos dos Animais (João Carlos Alvim).
- A colecção CAMPO DAS REVOLUÇÕES será dirigida por João Carlos Alvim e os primeiros títulos previstos para edição retratam alguns aspectos das revoluções Francesa, Bolchevique e Americana.
- A colecção OS LIVROS E A HISTÓRIA trará até nós livros que se transformaram eles próprios em parte da história, tal a sua importância no nosso panorama cultural, político e social. Com direcção de João Carlos Alvim, deverão sair em breve “A Traição dos Intelectuais” (Julien Brenda), “Os Condenados da Terra” (Franz Fannon) e “Discursos à Nação Alemã” (Johann Gottlieb Fichte).
- João Caraça dirigirá a colecção CIÊNCIA E VIDA, que espera editar em breve “Que Futuro? Ciência e Sustentabilidade” (Filipe Duarte Santos), “Consciência do Corpo” (António Manuel Pinto do Amaral Coutinho) e “Pedagogia e Neuropsicologia” (Alexandre Castro Caldas e Berta Bustorff Silva).
- Finalmente, a Campo das Letras vai proceder à reedição das OBRAS DE JACINTO DO PRADO COELHO, já que a grande maioria delas está esgotada há vários anos. Com a organização de Maria João Reynaud, esta iniciativa será também responsável pela edição de alguns volumes de “Dispersos”.
segunda-feira, maio 17, 2004
ARRANHA-CÉUS - Jacinto Lucas Pires
«JÚLIO CÉSAR: Fazes-me um grande favor?
BARMAN: Depende.
JÚLIO CÉSAR (sentando-se ao balcão): Esta música...
BARMAN (interrompendo-o): Se há uma palavra que eu odeio, é “depende”. “Depende”... É uma palavra capaz de tornar uma conversa interessante numa coisa mole, sem coluna vertebral, sem força, sem nada...
JÚLIO CÉSAR: Não te sabia tão filosófico.
BARMAN: Deformação profissional... Uísque, cerveja?
JÚLIO CÉSAR: Vinho tinto.
BARMAN: Não te sabia tão filosófico.
JÚLIO CÉSAR (sorrindo): Um dia não são dias...»
(págs. 68 e 69)
Continuamos nos palcos, desta vez com uma peça escrita por Jacinto Lucas Pires e editada pela Cotovia em 1999, que viria a ser interpretada no Teatro Nacional de S. João, no mesmo ano, com encenação de Ricardo Pais. (a página)
Júlio César é um jovem com uma carreira profissional dividida entre os Ovos Rodrigues e a loja de perucas, uma vida amorosa cheia de equívocos e desencontros, e com uns amigos muito peculiares. Para além disso, tem uma aversão a palavrões que o metem nas mais curiosas situações...
Pormenor curioso nesta história são as músicas que Júlio César e Dores cantam um com o outro (e um ao outro), dessa mítica banda, os Wafers... Quem? Os Wafers, que criaram os grandes sucessos “Lying” e “Miss Police Woman” :) Mais pormenores sobre esta banda criada para a peça no site mp2000.
Em suma, só posso acrescentar que gostei muito, e que me deu muita pena de não a ter visto em palco...
Arranha-Céus, de Jacinto Lucas Pires, da Cotovia, 1ª edição (1999), 120 pág., pvp: €9,98
«A rua do Vendedor de castanhas, de tarde. Chove, Júlio César protege-se debaixo do guarda-chuva do carrinho do Vendedor. Vão passando pessoas.
(...)
VENDEDOR: ...O cágado chamava-se Pascoal. “Pascoal, olha a tua casa nova. É muito bonitinha, não é? Hã? Não achas?” ... A minha Rute... Penso sempre nela quando chove. (Breve pausa) A vida é mesmo uma merda.
JÚLIO CÉSAR: Não diga isso.
Pausa
VENDEDOR: ...Sim, tem razão. Há coisas boas...
JÚLIO CÉSAR: Não, é que eu não suporto palavrões.
VENDEDOR: ...Como?
JÚLIO CÉSAR: Fazem-me nervos...
VENDEDOR: Peço desculpa, foi sem intenção. (Pausa) Não há maneira de parar...
JÚLIO CÉSAR: O quê?
VENDEDOR (a apontar em frente): ... A chuva.
JÚLIO CÉSAR: Pois é.»
(págs. 74 a 76)
BARMAN: Depende.
JÚLIO CÉSAR (sentando-se ao balcão): Esta música...
BARMAN (interrompendo-o): Se há uma palavra que eu odeio, é “depende”. “Depende”... É uma palavra capaz de tornar uma conversa interessante numa coisa mole, sem coluna vertebral, sem força, sem nada...
JÚLIO CÉSAR: Não te sabia tão filosófico.
BARMAN: Deformação profissional... Uísque, cerveja?
JÚLIO CÉSAR: Vinho tinto.
BARMAN: Não te sabia tão filosófico.
JÚLIO CÉSAR (sorrindo): Um dia não são dias...»
(págs. 68 e 69)
Continuamos nos palcos, desta vez com uma peça escrita por Jacinto Lucas Pires e editada pela Cotovia em 1999, que viria a ser interpretada no Teatro Nacional de S. João, no mesmo ano, com encenação de Ricardo Pais. (a página)
Júlio César é um jovem com uma carreira profissional dividida entre os Ovos Rodrigues e a loja de perucas, uma vida amorosa cheia de equívocos e desencontros, e com uns amigos muito peculiares. Para além disso, tem uma aversão a palavrões que o metem nas mais curiosas situações...
Pormenor curioso nesta história são as músicas que Júlio César e Dores cantam um com o outro (e um ao outro), dessa mítica banda, os Wafers... Quem? Os Wafers, que criaram os grandes sucessos “Lying” e “Miss Police Woman” :) Mais pormenores sobre esta banda criada para a peça no site mp2000.
Em suma, só posso acrescentar que gostei muito, e que me deu muita pena de não a ter visto em palco...
Arranha-Céus, de Jacinto Lucas Pires, da Cotovia, 1ª edição (1999), 120 pág., pvp: €9,98
«A rua do Vendedor de castanhas, de tarde. Chove, Júlio César protege-se debaixo do guarda-chuva do carrinho do Vendedor. Vão passando pessoas.
(...)
VENDEDOR: ...O cágado chamava-se Pascoal. “Pascoal, olha a tua casa nova. É muito bonitinha, não é? Hã? Não achas?” ... A minha Rute... Penso sempre nela quando chove. (Breve pausa) A vida é mesmo uma merda.
JÚLIO CÉSAR: Não diga isso.
Pausa
VENDEDOR: ...Sim, tem razão. Há coisas boas...
JÚLIO CÉSAR: Não, é que eu não suporto palavrões.
VENDEDOR: ...Como?
JÚLIO CÉSAR: Fazem-me nervos...
VENDEDOR: Peço desculpa, foi sem intenção. (Pausa) Não há maneira de parar...
JÚLIO CÉSAR: O quê?
VENDEDOR (a apontar em frente): ... A chuva.
JÚLIO CÉSAR: Pois é.»
(págs. 74 a 76)
domingo, maio 16, 2004
O AMOR DE LONGE - Amin Maalouf
«JAUFRÉ:
A mulher que eu desejo está tão longe, tão longe,
Que nunca os meus braços se fecharão em volta dela.
(...)
É graciosa e humilde e virtuosa e doce,
Corajosa e tímida, resistente e frágil,
Princesa com coração de camponesa, camponesa com coração de princesa,
Com voz ardente cantará as minhas canções...
(...)
COMPANHEIROS:
Essa mulher não existe, diz-lho, Peregrino,
Tu que percorreste o mundo, diz-lho!
Essa mulher não existe!
PEREGRINO (sem pressa):
Talvez ela não exista
Mas talvez também ela exista.
Um dia, no Ultramar, eu vi passar uma dama...»
(pág. 19 a 21)
Basta o Peregrino assim falar para que Jaufré, trovador e príncipe de Blaye, se deixe enamorar por uma mulher que nunca viu e de quem nem conhece o nome. Do outro lado do mar, o Peregrino conta a Clémence como há um trovador que a canta e a mais nenhuma outra. Um amor ao longe, no qual cabem todas as dúvidas e certezas, de beleza e desespero.
Libreto de Amin Maalouf para uma ópera composta pela finlandesa Kaija Saariaho, "O Amor de Longe" conta em cinco actos a história de um amor puro, em que não sabemos se a distância separa ou une os dois amantes.
"O Amor de Longe" ("L'amour de loin"), de Amin Maalouf (trad. António Pescada), Difel 2003 (Éditions Grasset & Fasquelle, 2001), 1ª edição, 88 pág., pvp.: €8
«COROS DAS TRIPOLITANAS:
Pois vós, condessa, não sofreis?
(...)
Não sofreis por nunca nunca sentir a sua respiração na vossa pele?
CLÉMENCE (como que surpresa):
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Talvez que um dia eu sofra, mas pela graça de Deus, não, não sofro ainda
As canções dele são mais do que carícias, e eu não sei se amaria o homem como amo o poeta
Não sei se amaria a sua voz tanto como amo a sua música
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Sem dúvida sofreria se esperasse esse homem e ele não viesse
Mas eu não o espero
(...)
Eu sou o ultramar do poeta e o poeta é o meu ultramar
Entre as nossas duas margens viajam as palavras ternas
Entre as nossas duas vidas viaja uma música...
Não, por Nosso Senhor, que não sofro
Não, por Nosso Senhor, que não o espero
Não o espero...»
(pág. 54, 55)
Ligações para o texto em francês e em inglês, para o Finnish Music Information Centre e o Forum Opéra.
A mulher que eu desejo está tão longe, tão longe,
Que nunca os meus braços se fecharão em volta dela.
(...)
É graciosa e humilde e virtuosa e doce,
Corajosa e tímida, resistente e frágil,
Princesa com coração de camponesa, camponesa com coração de princesa,
Com voz ardente cantará as minhas canções...
(...)
COMPANHEIROS:
Essa mulher não existe, diz-lho, Peregrino,
Tu que percorreste o mundo, diz-lho!
Essa mulher não existe!
PEREGRINO (sem pressa):
Talvez ela não exista
Mas talvez também ela exista.
Um dia, no Ultramar, eu vi passar uma dama...»
(pág. 19 a 21)
Basta o Peregrino assim falar para que Jaufré, trovador e príncipe de Blaye, se deixe enamorar por uma mulher que nunca viu e de quem nem conhece o nome. Do outro lado do mar, o Peregrino conta a Clémence como há um trovador que a canta e a mais nenhuma outra. Um amor ao longe, no qual cabem todas as dúvidas e certezas, de beleza e desespero.
Libreto de Amin Maalouf para uma ópera composta pela finlandesa Kaija Saariaho, "O Amor de Longe" conta em cinco actos a história de um amor puro, em que não sabemos se a distância separa ou une os dois amantes.
"O Amor de Longe" ("L'amour de loin"), de Amin Maalouf (trad. António Pescada), Difel 2003 (Éditions Grasset & Fasquelle, 2001), 1ª edição, 88 pág., pvp.: €8
«COROS DAS TRIPOLITANAS:
Pois vós, condessa, não sofreis?
(...)
Não sofreis por nunca nunca sentir a sua respiração na vossa pele?
CLÉMENCE (como que surpresa):
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Talvez que um dia eu sofra, mas pela graça de Deus, não, não sofro ainda
As canções dele são mais do que carícias, e eu não sei se amaria o homem como amo o poeta
Não sei se amaria a sua voz tanto como amo a sua música
Não, por Nosso Senhor, eu não sofro
Sem dúvida sofreria se esperasse esse homem e ele não viesse
Mas eu não o espero
(...)
Eu sou o ultramar do poeta e o poeta é o meu ultramar
Entre as nossas duas margens viajam as palavras ternas
Entre as nossas duas vidas viaja uma música...
Não, por Nosso Senhor, que não sofro
Não, por Nosso Senhor, que não o espero
Não o espero...»
(pág. 54, 55)
Ligações para o texto em francês e em inglês, para o Finnish Music Information Centre e o Forum Opéra.
terça-feira, maio 11, 2004
vamos em passeio
«Estivemos um mês inteiro à janela
com os cotovelos apoiados, a contemplar aquele pedaço de terra
rodeado de sebes. E chegou o verão.
Agora vamos em passeio pelas estradas vazias da aldeia
sem falar e sem olhar um para o outro
como se não fôssemos nós próprios.
Às vezes os lampiões permanecem acesos
até ao meio-dia na praça
porque os do município vizinho
se esquecem de nós
e os candeeiros ao sol
parecem pirilampos enlouquecidos.
As estradas, que calafetadas com pedras
novas faziam escorregar,
são agora suaves tapetes de erva sob nossos passos.
Quando anoitece sentamo-nos no chão
e afagamos a erva das fendas,
rara, como os cabelos de uma cabeça anciã.»
Canto Vigésimo Quinto, de Tonino Guerra (trad. Mário Rui de Oliveira), em "O Mel"
com os cotovelos apoiados, a contemplar aquele pedaço de terra
rodeado de sebes. E chegou o verão.
Agora vamos em passeio pelas estradas vazias da aldeia
sem falar e sem olhar um para o outro
como se não fôssemos nós próprios.
Às vezes os lampiões permanecem acesos
até ao meio-dia na praça
porque os do município vizinho
se esquecem de nós
e os candeeiros ao sol
parecem pirilampos enlouquecidos.
As estradas, que calafetadas com pedras
novas faziam escorregar,
são agora suaves tapetes de erva sob nossos passos.
Quando anoitece sentamo-nos no chão
e afagamos a erva das fendas,
rara, como os cabelos de uma cabeça anciã.»
Canto Vigésimo Quinto, de Tonino Guerra (trad. Mário Rui de Oliveira), em "O Mel"
segunda-feira, maio 03, 2004
Mil Folhas: Coraline, Danças com Livros, Herman Hesse e 25 de Abril
A menina Coraline (não é Caroline) continua a impressionar, e desta vez ganhou para o seu criador, Neil Gaiman, o prémio Nebula para a melhor novela (Best Novella) de 2003, atribuído pela Science Fiction and Fantasy Writers of America.
O livro "Coraline e a Porta Secreta" (ed. Presença) continua a dar um cada vez maior reconhecimento público ao autor de "American Gods" e da saga "Sandman".
«A partir da próxima sexta-feira (e durante todo o fim-de-semana), pelas salas do Convento da Saudação e na livraria Fonte das Letras, em Montemor-o-Novo, haverá a quarta edição do Danças com Livros: uma feira do livro com escritores, actores, realizadores, bailarinos, músicos, artistas plásticos. A abrir, às 18h30, um concerto de Jazz, depois o lançamento do livro "Quase gosto da vida que tenho", de Pedro Paixão, depois a apresentação do livro "Rafael" (na imagem), de Manuel Alegre, apresentação do espectáculo de dança "Casiotone", de Sílvia Real, e finalmente a exibição de uma curta-metragem. Sábado e domingo a agenda é igualmente preenchida por cinema, ateliers, música livros e dança.»
«Como outros sonham ser médicos, carpinteiros ou aviadores, o jovem Hermann Hesse sonhava ser mágico. E, se o desejava ardentemente, porque não haveria de consegui-lo? Tinha todas as condições para isso: os sentidos bem despertos, um ambiente familiar que prezava as forças misteriosas da vida e, sobretudo, uma enorme insatisfação perante aquilo a que costuma designar-se por realidade e que, muitas vezes, não passa da prisão resignada da inteligência. Só mais tarde viria a compreender que a autêntica magia não é a que consiste em transformar o mundo exterior, mas aquela que se aplica à transformação do próprio sujeito. Nessa altura, além de mágico, Hesse era poeta e preparava-se para vir a ser um grande escritor.»
Regina Louro fala-nos de Herman Hesse, no momento em que três dos seus livros chegam às livrarias em novas edições: "O Mágico" (Planeta Editora), "As Mais Belas Histórias" (Editorial Notícias) e "Deambulações Fantásticas" (Difel).
«Alguém faz uma pesquisa sobre o 25 de Abril de 1974 e acerca-se de um adolescente para que este lhe conte o que sabe. Entre uns quantos "bués", lá foi dizendo: "Claro que sei que o 25 de Abril foi quando os militares se meteram nuns tanques e andaram de madrugada pelo Terreiro do Paço. Mas se queres que te explique o que é que eles lá andavam a fazer, isso é que já não sei. À espera do cacilheiro para o Ginjal é que não era, com certeza." Como o 10 de Junho ou o 5 de Outubro, "é feriado e isso é que interessa".»
Entre as ideias dos mais novos e as memórias dos mais velhos, este "Vinte Cinco a Sete Vozes" é um retrato do 25 de Abril construído por Alice Vieira e ilustrado por Filipe Abranches, que conhece agora uma 2ª edição, depois do seu lançamento aquando dos 25 anos da revolução, numa edição da Caminho. Rita Pimenta faz uma apresentação.
O livro "Coraline e a Porta Secreta" (ed. Presença) continua a dar um cada vez maior reconhecimento público ao autor de "American Gods" e da saga "Sandman".
«A partir da próxima sexta-feira (e durante todo o fim-de-semana), pelas salas do Convento da Saudação e na livraria Fonte das Letras, em Montemor-o-Novo, haverá a quarta edição do Danças com Livros: uma feira do livro com escritores, actores, realizadores, bailarinos, músicos, artistas plásticos. A abrir, às 18h30, um concerto de Jazz, depois o lançamento do livro "Quase gosto da vida que tenho", de Pedro Paixão, depois a apresentação do livro "Rafael" (na imagem), de Manuel Alegre, apresentação do espectáculo de dança "Casiotone", de Sílvia Real, e finalmente a exibição de uma curta-metragem. Sábado e domingo a agenda é igualmente preenchida por cinema, ateliers, música livros e dança.»
«Como outros sonham ser médicos, carpinteiros ou aviadores, o jovem Hermann Hesse sonhava ser mágico. E, se o desejava ardentemente, porque não haveria de consegui-lo? Tinha todas as condições para isso: os sentidos bem despertos, um ambiente familiar que prezava as forças misteriosas da vida e, sobretudo, uma enorme insatisfação perante aquilo a que costuma designar-se por realidade e que, muitas vezes, não passa da prisão resignada da inteligência. Só mais tarde viria a compreender que a autêntica magia não é a que consiste em transformar o mundo exterior, mas aquela que se aplica à transformação do próprio sujeito. Nessa altura, além de mágico, Hesse era poeta e preparava-se para vir a ser um grande escritor.»
Regina Louro fala-nos de Herman Hesse, no momento em que três dos seus livros chegam às livrarias em novas edições: "O Mágico" (Planeta Editora), "As Mais Belas Histórias" (Editorial Notícias) e "Deambulações Fantásticas" (Difel).
«Alguém faz uma pesquisa sobre o 25 de Abril de 1974 e acerca-se de um adolescente para que este lhe conte o que sabe. Entre uns quantos "bués", lá foi dizendo: "Claro que sei que o 25 de Abril foi quando os militares se meteram nuns tanques e andaram de madrugada pelo Terreiro do Paço. Mas se queres que te explique o que é que eles lá andavam a fazer, isso é que já não sei. À espera do cacilheiro para o Ginjal é que não era, com certeza." Como o 10 de Junho ou o 5 de Outubro, "é feriado e isso é que interessa".»
Entre as ideias dos mais novos e as memórias dos mais velhos, este "Vinte Cinco a Sete Vozes" é um retrato do 25 de Abril construído por Alice Vieira e ilustrado por Filipe Abranches, que conhece agora uma 2ª edição, depois do seu lançamento aquando dos 25 anos da revolução, numa edição da Caminho. Rita Pimenta faz uma apresentação.
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