Os Homens Esquecidos de Deus, de Albert Cossery (trad. Ernesto Sampaio), da Antígona, Fevereiro 2002 (1ª edição), 151 pág.
«Não existe um autor vivo que tenha descrito de forma mais pungente e implacável a vida daqueles que, no género humano, compõem a grande multidão submersa...», disse Henry Miller, após introduzir a obra de Albert Cossery nos Estados Unidos da América, em 1940. Originalmente publicado em 1927, este foi o seu primeiro livro, e é impossível ficar-lhe indiferente. São 5 contos em que a miséria nos é apresentada duma forma a que não estamos habituados, de tão cruel - «Era um dia como os outros: lento, feroz e esfomeado de vítimas humanas.» pág. 84 -, de tão ilusória. Chega-se ao fim e fica um sabor amargo na boca, mas ainda assim uma esperança, porque estes personagens são sobreviventes. Podem não controlar os rumos do mundo, ou muitas vezes até os seus próprios, mas continuam. Em busca de um futuro menos atroz.
«- Somos pobres porquê? -, perguntou a criança.
(...)
A criança estava sempre à espera que lhe explicassem por que eram pobres. Deixara de chorar, mas ainda havia muitas lágrimas dentro de si, todas as lágrimas das crianças miseráveis cujos sonhos são traídos pela vida.
- Escuta, pequeno, vai-te sentar num canto e deixa-me trabalhar. Se somos pobres é porque Deus nos esqueceu, meu filho.
- Deus! - exclamou a criança. - E quando se lembrará ele de nós, meu pai?
- Quando Deus esquece alguém, é para sempre.» pág. 56, 57
(um outro excerto deste livro, no pilha-links)
Sem comentários:
Enviar um comentário