«Westin não é muito velho. Nasceu no dia 17 de Maio de 1936. Mas parece ter muito mais de quarenta anos: está magro, estragado, com o cabelo ralo. Usa óculos, daqueles de aros finos, de metal, que acentuam a impressão de magreza. Vive em condições económicas extremamente modestas, mas isso não o preocupa.
O que vamos ler são apontamentos dele. Apontamentos deixados por ele, pois nesta Primavera de 1975, precisamente por alturas do degelo, ele descobre que antes do Outono terá desaparecido. Tem um cancro mortal que, finalmente, mas tarde de mais, é localizado no baço, com fortes metástases nos tecidos circundantes.
A voz que vão ouvir a partir de agora é a dele, não a minha, e por isso me despeço aqui.» p.22
«Será o povo sueco mais paciente que os outros povos? Não sei grande coisa a este respeito. Nunca viajei muito na minha vida. Duas viagens de bicicleta pela Dinamarca no início dos anos 50, um torneio de ténis de mesa em Kiel, na Alemanha Ocidental, e uma série de passeios à Noruega atravessando a fronteira em Femundsänden, por Orsa e Idra, não são muito informativos. Tenho uma certa tendência para ver o mundo exterior à Suécia como qualquer coisa de literário, qualquer coisa que aparece nos livros e nos jornais.» p.34
"A Morte de um Apicultor", de Lars Gustafsson (trad. Ana Diniz), edições asa, Fevereiro 2001 (2ª ed.), 174p., pvp:8,50€
Lars Westin sabe que vai morrer em breve. As dores lembram-lhe disso mesmo. Foram essas dores que o levaram a adquirir uma nova consciência de si mesmo, do seu corpo, da solidão. Mas será que sabe? Afinal, a vontade de viver fez arder a resposta e assim a esperança subsiste. A solidão leva-o a registar memórias de outros tempos, acontecimentos banais do presente mas que marcam os dias, temores.
É com intenso prazer que releio este livro do sueco Lars Gustafsson, originalmente publicado em 1978, e que tem mais 3 livros traduzidos em Portugal, todos na Asa.
«... desde as três da manhã, com intensidade crescente, partindo do mesmo ponto que antes e ramificando-se para a coxa e o diafragma, primeiro o grau de intensidade normal, depois aumentando para a incandescência branca.
Eu sabia que era só uma trégua.
Curiosamente, tenho a sensação de que a utilizei bem.» p.163
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