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«O mal-estar suscitado pelo sonho era tão desmesurado que se esforçou por decifrar a razão de tal. O que a perturbou assim, pensa ela, foi a supressão do tempo presente operada pelo sonho. Está apaixonadamente apegada ao seu presente e não o trocaria por nada deste mundo, nem pelo passado nem pelo futuro. Por isso é que não gosta de sonhos: impõe uma inaceitável igualdade entre diferentes épocas de uma mesma vida, uma contemporaneidade niveladora de tudo o que o homem alguma vez viveu; desconsideram o presente negando-lhe a sua posição privilegiada.» p.8,9
«Como pode ele querer mal a Chantal por pertencer ao seu sexo, por se parecer com as outras mulheres, por usar soutien e, com ele, a psicologia do soutien? Como se também ele não pertencesse a uma qualquer imbecilidade eternamente masculina! Ambos vão buscar a sua origem a essa oficina de pequenos trabalhos onde se deu cabo dos olhos com o movimento desarticulado de uma pálpebra e onde se instalou uma fabriqueta fedorenta na barriga. Têm ambos um corpo em que a pobre alma ocupa um ínfimo lugar. Não deveriam perdoar isso um ao outro? Não deveriam ultrapassar as pequenas misérias que escondem no fundo das suas gavetas? Foi possuído por uma imensa compaixão e, para colocar um traço final naquela história, decidiu escrever-lhe uma última carta.» p.103,104
(NR: crítica ao livro, em inglês, no artobello.de)
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