domingo, abril 18, 2004

Mil Folhas: Manuel Alegre, "Herman", Rui Araújo, João Ramalho Santos

Manuel Alegre dá uma entrevista a Helena Vasconcelos, directora da revista "Storm", a propósito da recente edição de "Rafael", o seu último livro, publicado pela Dom Quixote.

«Eu era mais camuseano - lia "o Estrangeiro" e dava para meses, para noites de conversa. A Cultura era quase um processo orgânico, passava a fazer parte de nós, não era algo como hoje em dia em que se lêem "abrégés" disto e daquilo. Os filmes - os Fellinis, os Viscontis, os Bergmans eram vistos vezes sem conta, ficávamos noites e noites à conversa...
E as pessoas também viviam através desses mesmos livros, desses mesmos livros, tal como Rafael?
Sim, é por isso que Rafael se desdobra em muitos dessas personagens porque o processo era quase de osmose, na nossa apreensão do mundo. O Rilke, por exemplo, era uma espécie de religião.»


Também Lars Saabye Christensen falou ao Mil Folhas desta semana, num artigo de Maria José Oliveira. O tempo é ainda de promoção do seu "Herman", que recentemente foi traduzido para português pela Cavalo de Ferro, e de que já tínhamos falado aqui no pilha-livros.

«"Herman" está dividido em três capítulos - Outono, Inverno e Primavera (por esta ordem). O escritor explica que esta foi uma "forma de estruturar o livro", mas a escolha das estações do ano têm correspondência directa com os estados de alma do protagonista. Por isso, explica o autor, "acaba na Primavera porque logo a seguir, no Verão, Herman encontra o mundo e transforma-se numa criança mais forte". "Fiquei muito contente com isso", acrescenta o escritor, como se o rumo da personagem lhe tivesse escapado das mãos.»


"Escrevo para não me meter nos copos, para não dar em doido", ou de como Rui Araújo reagiu à sua saída da RTP, após 4 anos na "prateleira". Este é já o seu segundo livro, segunda incursão nos meandros do romance policial. Entrevista conduzida por Isabel Braga, que também faz uma análise da obra.

«Podem não existir polícias exactamente iguais a este, mas, certamente, se Rui Araújo não tivesse conhecido de perto os verdadeiros agentes da Judiciária, não teria sido capaz de criar estas personagens a um tempo exóticas e previsíveis, extraordinariamente humanas, em suma. Ao conhecê-los, pensa-se que não hão-de estar muito longe da realidade e Rui Araújo chegou a elas impelido pelo seu lado de jornalista.»


Na edição on-line não o podemos encontrar, mas ao inquérito desta semana responde João Ramalho Santos, biólogo, professor universitário e crítico de BD, e que merece aqui destaque por (pelo menos) 3 razões.
O último livro que ofereceu foi "Vincent e Van Gogh", de Gradimir Smudja, editado pela Witloof.
A arrumação de livros é feita «por géneros e temas. Ou em pilhas que apenas parecem caóticas para observadores menos atentos...»
E será que consegue escolher o livro da sua vida? «Evidentemente. Parece que o estou a ler agora. Mas nunca me recordo do título. Nem dos autores. Temos muitas vidas, é o que (também) nos vale...»

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