Count Vlad, Bram Stoker e Henry Irving
Bram Stoker morreu aos 64 anos de idade, fez ontem 92 anos. Apesar de ser o autor de uma dúzia de romances, três colecções de contos e quatro livros não ficcionais, Stoker é conhecido quase exclusivamente por Dracula, publicado em 1897. O romance trouxe pouca fama ou fortuna a Stoker durante a sua vida, e no último ano ele ganhou tão pouco com a sua escrita que teve de se candidatar a um piedoso subsídio ao Fundo Literário Real. Nem a violência erótica do livro levantou sobrancelhas, apesar de Ghosts, de Ibsen, que foi publicado nesse mesmo ano e era muito mais suave, ter causado furor por abordar o tema das doenças venéreas. Os críticos da época, talvez relutantes em denotar o subtexto psicossexual com medo da auto-condenação, optaram por classificar Dracula como uma obra popular, de objectivos comerciais; os críticos contemporâneos lêem o livro como um “léxico sexual genuíno de tabus Victorianos”, ou como “uma espécie de desafio de wrestling incestuoso, necrófilo, oral-anal-sadístico, tudo misturado”, ou “sexo sem genitais, sexo sem confusão, sexo sem responsabilidade, sexo sem culpa, sexo sem amor - melhor ainda, sexo sem qualquer registo”.
Ondas de histeria vampírica varreram a Europa ao longo do Séc. XVIII, e na altura em que Stoker teve a sua vez com as lendas, já elas tinham sido trabalhadas por Goethe, Coleridge, Byron, Southey, Dumas e outros. O primeiro romance Inglês da linha vampírica foi The Vampire, de John Polidori, escrito em 1819, a partir do fragmento de uma história desenvolvida por Byron, de quem Polidori era médico particular. (O romance de Polidori é por demais relembrado como a resposta a uma das clássicas perguntas em jogos de conhecimento literário: Qual foi a outra história de terror que teve a sua génese na noite literária do Lago Genebra partilhada por Byron e pelos Shelleys?) Apesar de haver um subtexto de sexualidade reprimida, confusa e depravada em muita da literatura de vampiros, alguns biógrafos acreditam que o interesse de Stoker no tema veio menos das lendas do que da sua vida privada, especificamente da sua complexa relação com o famoso actor Henry Irving. Stoker era o agente e companheiro de há longa data de Irving, apaixonado ao ponto de ponto de ter dado ao seu filho o nome de Irving Noel Stoker. Dracula, nesta linha de raciocínio, é uma miscelânea de transferência homoerótica.
Mais tradicional e menos subliminar é a ideia de que o herói de Stoker deriva da sua pesquisa de um príncipe de Wallachia (antigo principado, agora anexado na Roménia) do Séc. XV, Conde Vlad Tepes, ou Vlad o Empalador, filho de Vlad Dracul. Esta ligação é aparentemente errónea: Stoker ia chamar ao seu romance “Conde Wampyr” até à sua pesquisa o ter levado a acreditar, não muito correctamente, que «Dracula» significava «Demónio» na língua Wallachiana. Daí, embora o autor conhecesse pouco ou nada do histórico Vlad, ou da Transilvânia, o livro levou a que ambos fossem consumidos pelo império vampírico. Até há alguns anos atrás, o governo Romeno tinha planos para construir o “Parque Drácula” na cidade medieval de Sighisoara, local de nascimento do Conde Vlad; protestos de estudiosos do vampirismo, defensores da história Romena e activistas anti-Disney levaram a que o projecto fosse mudado para a zona de Bucareste.
Adaptado de um texto de Steve King, publicado no Today in Literature.
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