«A sua grande promessa
Dizem que ele nunca se esquecia de um nome, de uma cara ou da cor favorita de alguém e que, aos doze anos, conhecia todas as pessoas da vila onde vivia pelo som que os sapatos delas faziam quando andavam.
Dizem que cresceu tanto em tão pouco tempo - meses?, quase um ano? - que teve de ficar de cama, pois a calcificação dos ossos não acompanhava a ambição da sua altura, de modo que, quando tentava ficar de pé, oscilava como uma trepadeira e caía ao chão como um monte de trapos.
Edward Bloom utilizava o seu tempo sabiamente, a ler. Leu quase todos os livros que existiam em Ashland. Mil livros - há quem diga dez mil. De História, de Arte, de Filosofia, de Horatio Alger. O que calhava. Leu-os todos. Até a lista telefónica.
Dizem que acabou por saber mais do que qualquer outra pessoa, mesmo do que Mr. Pinkwater, o bibliotecário. Já nessa altura o meu pai era um grande peixe.» pág. 22
Com O Grande Peixe em exibição nos cinemas em todo o país (já deve ser difícil apanhá-lo por estes dias), a Temas e Debates aproveitou para traduzir para português a obra que lhe deu origem. Primeiro romance de Daniel Wallace, até então mais virado para os contos (que viu publicados em diversas revistas), e que hoje em dia trabalha como ilustrador, este livro leva-nos de novo (para quem já viu o filme) para o estranho e bizarro mundo de Edward Bloom, a quem a morte é a pior coisa que lhe podia ter acontecido...
Seguindo uma certa linha cronológica, poderemos acompanhar a sua vida desde o momento do nascimento, e constatar que foi logo aí que começou a formar-se a reputação de grande homem, extraordinário; no fundo, um grande peixe.
O Grande Peixe (Big Fish: A Novel of Mythic Proportions), de Daniel Wallace (trad. Ana Falcão Bastos), da Temas e Debates, Março 2004 (1ª edição; ed. original: 1998), 175 págs., pvp: 15,95€
«O seu encanto discreto
Dizem que ele tinha um encanto especial, o dom da modéstia, uma propensão para ficar de súbito pensativo. O meu pai era... tímido. Apesar disso, as mulheres requestavam-no. Digamos que tinha um encanto discreto. Era também muito atraente, embora nunca permitisse que isso lhe subisse à cabeça. Era amigo de toda a gente e toda a gente era sua amiga.
Já nessa altura, diziam que tinha muita graça. Que sabia contar boas anedotas. Não quando se encontrava em grandes grupos, circunstância em que se mantinha reservado; mas quando o punham à vontade - como muitas mulheres de Ashland tentavam fazer! - fazia uma pessoa rir. Consta que se ouvia o riso deles à noite, do meu pai e dessas raparigas encantadoras, que se ouviam as suas gargalhadas animadas ecoarem pela cidade durante a noite, vindas do baloiço do alpendre da casa dele. O riso era o som preferido dos habitantes de Ashland para adormecerem. Eram assim as coisas naquele tempo.» pág. 36
to be continued...
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