Sim, mas - até por pudor - não gostaria de fazer a rábula do humorista angustiado.
Há um poema da Adília Lopes que se chama "Autobiografia sumária". São só três linhas:
Os meus gatos
gostam de brincar
com as minhas baratas
Sempre achei que isto era uma bela metáfora sobre o processo de fazer humor: aquilo que em nós é felino, perspicaz e arguto, põe-se a brincar com o que temos de mais obscuro e repelente. Uma vez perguntei à Adília Lopes se era isso que ela tinha querido dizer com o poema. Ela respondeu: "Não. O que se passa é que eu, às vezes, tenho baratas na cozinha, e os meus gatos gostam muito de brincar com elas."
Toma que é para não te armares em esperto.
excerto da entrevista de Leonor Pinhão a Ricardo Araújo Pereira, publicada na revista os meus livros nº 22, de Dezembro 2004.
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