sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Montra: semana 06/06 - parte 2

«If you want to read what is absolutely, certainly true about Mozart, this book may be a disappointment, because the story of what has happened to him since his death has irretrievably coloured that simple tale. But at the moment that marks a quarter of millenium since Mozart was born, the most we can do, given the infinite variety of possibilities in his music, is to provide some context - to help us hear Mozart's music freshly, and make of it what we will. Each listener will have a different reaction, just as every performer reinterprets him: here are some guides around that amazing output; from them, create your own Mozart.»
pág.4

«Mozart is like a mistress who is always serious and often sad, but whose very sadness is a fascination, discovering ever deeper springs of love.»
Stendhal (pág. 15)

The Faber Pocket Guide to Mozart, de Nicholas Kenyon, editado pela Faber & Faber em Setembro de 2005.


«- Parece-me que o senhor não percebeu mas acontece que não me apetece falar consigo.
- Porquê? - perguntou o desconhecido, num tom desenvolto.
- Porque estou a ler.
- Não está, não.
- Desculpe?
- O senhor não está a ler. Talvez pense que está a ler mas leitura não é isso.
- Oiça, não me apetece mesmo nada ouvir considerações profundas acerca da leitura. O senhor irrita-me. Mesmo que não estivesse a ler, não ia querer falar consigo.
- Vê-se logo quando alguém está a ler. As pessoas que lêem, que lêem a sério, não estão aqui. E o senhor está aqui.
- Nem imagina como lamento estar aqui! Sobretudo desde que o senhor apareceu.
- Pois é, a vida é cheia destes pequenos desacertos que a tornam complicada. Mais do que os problemas metafísicos, são as contrariedades insignificantes que marcam o absurdo da existência.»
págs. 9 e 10

A Cosmética do Inimigo (Cosmétique de l'ennemi), de Amélie Nothomb (trad. Fernanda Barão), editado pela Bizâncio em Maio de 2002.


«Que brando jeito aquele: como se sorrisse perante a agitação, a fantasia, a loucura e a graça de um grupo de crianças que brinca. Mas do que eu gostava sobretudo era da repousada segurança com que Teresinha cruzava as mãos sobre o vestido; ali, conversando e ouvindo as outras, e as mãos cruzadas, descansando uma na outra, como se apenas em si mesmas pudessem repousar.
Como nos conhecíamos de um ou dois domingos em que a tinha esperado com Carlinhos, fazia-lhe um cumprimento e passava. As outras tinham quase sempre um ar que se ligava ao da manhã, mais parado e melancólico nos de chuvinha e nevoeiro ou a um tempo arrepiado e vivo naquele agudo frio de céu azul que o Porto dá às vezes. Mas as mais bonitas para as ver eram as manhãs de Abril: não por elas, devo dizer; mas porque me davam um excelente fundo de lembrança que me tornava mais alegre e audacioso o voo riscado das andorinhas sobre o céu. Mulher complica a vida da gente, não é? O que não sucede com as andorinhas.»
págs. 50 e 51

Herta Teresinha Joan, de Agostinho da Silva, editado pela Cotovia em Maio de 1990.

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