
Um dia, de tanto ler paredes e pilares, o castelo ruiu; e Herr Alleswisser achou-se soterrado sob a sua cultura e viu-se nu, com fome, com sede, exposto à bruta crueza do Mundo.
Hoje, Herr Alleswisser é um sem abrigo e vive debaixo da ponte Erscheinigungsbrücker, onde passam os carros que seguem para Berlim Oriental.
Só quando confrontado com a vertente prática das ruas que apenas conhecia como ideia nesses livros que lia é que Herr Alleswisser compreendeu que a Literatura, só por si, não constitui a Cultura. Que ser culto, implica viver na mesma proporção em que se teoriza, sob pena de o sabor de uma carne ou de um peixe não ser a carne ou o peixe mas apenas uma sensação de saliva que surge à boca ao pensar-se uma iguaria abstracta que não é mais do que metáfora.
Ao descobrir isso, Herr Alleswisser obteve o impensável: perdeu tragicamente o seu castelo, para encontrar na condição de sem-abrigo aquela completude que buscava.
Dulcineia, meus Quijotes, está ao virar da esquina, não ao virar da página!
Sem comentários:
Enviar um comentário