quinta-feira, março 09, 2006

Montra...

Pois, isto é quando se pode e não quando se quer. A ideia foi boa, mas quando o tempo não estica... Por aqui vamos falando de livros e tudo o resto, estejam eles na montra ou não...

«no papel, as palavras escondidas, as nuvens.
dizes não posso ser o mundo hoje, esqueces que
tu és o mundo. dizes não posso, e eu gostava que
soubesses sempre que um lamento dentro de mim
te repete. abro o papel dobrado e abro a noite
no céu. as árvores são distantes, as palavras
e talvez a música, a terra é distante no
papel dobrado que me entregas escondido
na mão.»
pág. 79

A Criança em Ruínas, de José Luís Peixoto, editado pela Quasi em Setembro de 2001 (5ª edição, Novembro de 2003).


NO AZUL ÁRABE DE SAMARCANDA

«Um domingo, no azul árabe de Samrcanda, Amid Aka viu caminhar ao seu encontro dois forasteiros. Vinham ao fundo da avenida e, seguramente, procuravam chegar à sua loja, famosa pelas melancias que se comem durante o tempo em que as areias de deslocam. Num dado momento, os dois viraram em direcção do seu alpendre de madeira que cobre, de sombra, algumas mesas. No lavatório, apoiado contra o muro externo, lavaram as mãos. Amid Aka foi buscar duas melancias à loja fresca. Quando regressou, sob o alpendre, viu que um dos dois homens já não estava. Ao pousar as melancias, diante do que ficara, pergunta-lhe a razão pela qual seu amigo se ausentara. O homem fixou-o, com o rosto envolto numa expressão de perda. Limpou a fronte, coberta por gotas de suor, e, exausto, levantou-se da mesa dando sinais de partir. Mas antes disse: «Desde há algum tempo que todos me vêem na companhia de alguém». E afastou-se, pesaroso, caminhando ao longo da avenida coberta de pó.»
pág. 82

Histórias para uma Noite de Calmaria (Il Polverone - Storie per una Notte Quieta), de Tonino Guerra (tradução de Mário Rui de Oliveira), editado pela Assírio & Alvim em Novembro de 2002.

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