terça-feira, março 12, 2013

sábado, março 09, 2013

O Aborto, causas e soluções - Álvaro Cunhal

«A exploração capitalista e a situação social

Estes maravilhosos progressos técnicos não deram porém origem, como se poderia esperar, à abastança dos trabalhadores. Nos nossos dias e no nosso país, ainda há quem julgue que o problema da abundância reside na adopção dos meios técnicos mais modernos. Tal é o caso de António Sérgio, nos seus artigos "Sobre a Agrobiologia" publicados no jornal "O Diabo" (Junho de 1939). Quem assim ponha o problema mostra desconhecer não só os mecanismos da produção capitalista, como a história económica dos séculos XVIII e XIX e em particular da primeira revolução industrial. De facto, quer no campo, quer nos centros industriais, a vida era dificultosa e triste.
Uma grande parte da população não podia comer pão de trigo. A carne escasseava. As reses abatidas eram em número insuficiente. As habitações inabitáveis. As ruas dos bairros operários eram "sujas, cheias de detritos vegetais e animais, sem esgotos, providas permanentemente de charcos fedorentos". Campeava a miséria. A máquina, que, substituindo-se ao esforço muscular, deveria poupar as energias dos operários, trouxe consigo a escravatura das mulheres e das crianças, cujo frouxo rendimento muscular era entretanto suficiente para accioná-las. O Factory Act proibia o trabalho por mais de 6 horas às crianças "parecendo ter"... menos de 13 anos!»
págs. 21-22
 
O Aborto - causas e soluções (tese apresentada em 1940 para exame no 5º ano jurídico da Faculdade de Direito de Lisboa)
Álvaro Cunhal
Campo das Letras (1ª edição)
Porto, Fevereiro 1997
ISBN: 9726100151

Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás - V.I. Lénine

«Considerei necessário reproduzir agora estas declarações minhas, feitas por escrito, porque mostram exactamente a vontade da maioria de traçar de uma vez uma linha divisória precisa entre, por um lado, as possíveis (e inevitáveis numa luta acalorada) ofensas pessoais, a irritação pessoal devida à violência e ao «frenesi» dos ataques, etc., e, por outro, determinado erro político, determinada linha política (a coligação com a ala direita).
Estas declarações mostram que a resistência passiva da minoria tinha começado imediatamente a seguir ao congresso e provocou logo da nossa parte a advertência de que isso era um passo para a cisão do partido, que isso contradizia manifestamente as declarações de lealdade feitas no congresso e que dela resultaria uma cisão devida unicamente à exclusão de alguém dos organismos centrais (isto é, em consequência de uma não eleição), porque nunca ninguém pensou sequer em afastar do trabalho nenhum membro do partido; que a divergência política entre nós (inevitável, enquanto não estiver esclarecida e resolvida a questão de qual foi no congresso a linha errada: a de Mártov ou a nossa) cada vez mais começa a degenerar em querela mesquinha, com injúrias, suspeitas, etc., etc.»
págs.165-166
 
Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás (a crise no nosso partido)
V.I. Lénine
Edições Avante!
Biblioteca do Marxismo-Leninismo
Lisboa, Abril 1978

Conversações com Dmitri e outras fantasias - Agustina Bessa Luís

«Desordem e Travessura

Na hora de mais frequência nas ruas, quando a espessa malha da multidão se cruza evitando-se habilidosamente, incansavelmente artista em não chocar os seus guarda-chuvas, os seus carregos de caixas de cartão vazias, podemos meditar na desordem como numa consequência do ritmo de parentesco. Vemos de súbito toda essa gente, vizinha no seu tempo, nos seus desejos, na sua cidade, parecer explodir em direcções diferentes, procurando ignorar-se e precipitando-se nos intervalos livres dum passeio, duma praça. E se aproximássemos a nossa observação até ao nível das suas opiniões notaríamos que elas dependem mais da oposição ao que lhes é mais idêntico, do que resultam da lógica dos seus interesses. A desordem é a sensibilidade da limitação. Diz Bertolt Brecht que existe a ordem onde não há mais nada. «A ordem é um fenómeno de escassez» - acrescenta.»
pág.7
 
Conversações com Dmitri e outras fantasias
Agustina Bessa Luís
Na Regra do Jogo (2ª edição, Fevereiro 1981)
Capa e arranjo gráfico: João B.

A Metamorfose - Franz Kafka

«1

Uma manhã, quando Gregor Samsa despertou de um sonho algo turbulento deu por si transformado numa espécie monstruosa de insecto.
Estava deitado sobre o dorso, tão duro como uma couraça e, erguendo a custo a cabeça, divisou o seu arredondado ventre castanho, segmentado numa nítida ondulação. As cobertas escorregavam, irremediavelmente, desse ventre móvel, e as pernas de Gregor, inexplicavelmente finas para a massa do corpo de onde brotavam, agitavam-se num desamparo, diante dos seus olhos.
"Que terá acontecido?", pensou. Sonho não era.»
pág.5
 
A Metamorfose
Franz Kafka (versão: Augusto do Carmo Vaz)
Ilustrações: Pedro Nora
Íman Edições / Bedeteca de Lisboa
Colecção Livros de Oz (Maio de 2001)
ISBN: 9728665083

sexta-feira, março 01, 2013

Salazar visto pelos seus próximos (1946-68) - Jaime Nogueira Pinto (organização)

«Reunir os testemunhos de colaboradores próximos de Salazar pode ter - tem - o interesse de trazer elementos sobre o «factor humano» de alguém que passa por não o ter tido; ou, pelo menos, de levar tal factor em pouca conta. Na verdade, de Salazar ficou sobretudo a obra - (ou as obras), académica, governativa, político-doutrinária -, obras julgadas ou pelo menos qualificadas com perspectivas antípodas pelos contemporâneos, consoante admiradores ou críticos, segundo estiveram com ele ou contra ele. Ainda hoje.»
pág.XI (Prefácio, Jaime Nogueira Pinto)
 
 
«De tal resultaram pressões intensas sobre Portugal, coniderando-se que, após mais de vinte anos de regime autoritário - embora autoritarismo limitado pelo Direito e pela Moral cristã, e não totalitário -, seria o momento de o Estado Novo dar lugar a uma democracia pluralista. Mas havia pelo menos uma razão decisiva - repete-se decisiva - que impedia o estabelecimento, na época, em Portugal, dessa democracia pluralista. É que a influência que, em semelhante democracia, poderia surgir e decerto surgiria da parte de movimentos esquerdistas, inclusivamente socialistas-democráticos e socialistas-comunistas, conduziria à impossibilidade de manter a integridade do Conjunto Português - Metrópole e Ultramar -, mesmo dentro da Solução Portuguesa e da Política Ultramarina Portuguesa que adiante se referirão. Insiste-se: o estabelecimento, então, de uma democracia pluralista em Portugal teria como consequência, imediata ou a curto prazo, a perda do seu Ultramar.»
págs.125-126 (Kaúlza de Arriaga)
 
Salazar visto pelos seus próximos (1946-68)
Jaime Nogueira Pinto (organização), Luís Filipe Leite Pinto, Kaúlza de Arriaga, António da Silva Teles, et al
Bertrand Editora
2ª edição (Maio 1993)