«Ouvi falar pela primeira vez no Sebastião Alba nas aulas de Literatura Africana de Expressão Portuguesa, quando, na universidade, estudava para doutor de letras & tretas. O professor, muito academicamente, referiu-se ao branco com alma de negro e recomendou-nos a leitura de O Ritmo do Presságio e de A Noite Dividida. Não me preocupei a procurar os livros na biblioteca da instituição e muito menos numa livraria - na altura o dinheiro mal dava para a cerveja diária que um estudante tinha de consumir para não ser mal visto pelos colegas. Mas realmente os livros não me interessavam. Primeiro porque eu andava a ler o Castro Soromenho e o Luandino Vieira e depois porque eram de poesia, coisa que pouco me atraía.
Ficou-me pois o nome na cabeça juntamente com muitos outros que nunca li nem estava nos meus horizontes ler. Mas sempre era cultural saber-lhes os nomes e um ou dois títulos das obras que escreveram e que têm feito a volúpia de alguns, para, numa tertúlia, não ficar mal visto diante daqueles que leram e consideram os não ledores pouco acima da gentalha que adormece à frente da televisão e vai à bola.
Algum tempo depois, conheci o José Vieira e o Vergílio Alberto Vieira, e a minha aversão à poesia foi mudando a ponto de até eu próprio começar a alinhar uns versos de rima toante. Nas conversas que íamos tendo, vinha de vez em quando à baila o Sebastião Alba, que eu julgava a viver nalguma senzala africana. Afinal estava bem enganado. O Sebastião Alba era quase meu vizinho. Aliás, em certas tardes de calor, poderia dizer que era mesmo meu vizinho. À frente do prédio dos meus pais há um relvado com a sombra apetitosa de um choupo e não imaginava eu que o desgraçado que ali se deitava a dormir a sesta com uma garrafa de vinho tinto ao lado era o autor de A Noite Dividida.»
texto de José Leon Machado, para ler completo aqui
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