«"1984" é um livro que se lê com um sentimento de inquietação crescente à medida que vamos avançando nas páginas. Exemplar magistral de um género literário denominado de "distopia" (ver http://en.wikipedia.org/wiki/Dystopian para umas luzes sobre o assunto), o livro tem sido abordado e comentado desde a altura em que foi escrito e mantém uma actualidade notável.
É absolutamente impossível não nos identificarmos com Winston, funcionário do partido comum que tem por função a reescrita da História, que gradualmente vai tomando consciência da opressão e falta de liberdade que permeia a sua vida. Partindo de um primeiro exercício de liberdade individual, simbolizado pela compra de um pequeno caderno onde começa a escrever o seu diário, o encontro com o amor (Julia) lança-o numa espiral de acontecimentos que o leva desde uma série de atitudes e comportamentos subversivos até ao momento em que finalmente é capturado pela polícia do pensamento e inicia um longo processo de reeducação com vista à sua reinserção na sociedade vigente.
É um livro que nos deixa a pensar sobre nós próprios e sobre qual o modelo de sociedade que queremos. Estaremos de facto pronto a abandonarmos uma série de liberdades individuais de modo a ganhar uma pseudo-tranquilidade na nossa vida normal? As estratégias e políticas securitárias que têm pela base o medo de um agente externo ameaçador acabam por levar, em última instância, a movimentos de repressão dentro das próprias sociedades ditas livres justificados pressupostamente por esse receio generalizado. É bastante mais fácil fazer passar certas políticas de controlo social em ambientes desfavoráveis e em cenários de crise, sem que haja uma resposta ou contestação social que impeça esses avanços. Basta lembrar o modo como certas ditaduras chegaram e se instalaram no poder.
"1984" deixa uma grande inquietação no futuro e abala a confiança na benignidade do Homem, mas desperta igualmente e saímos desta leitura mais alertas e, arrisco dizer, melhor preparados para as perturbações futuras que por aí vêm.»
por Nunovsky
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