O senhor Valéry gostava muito de café. Para o senhor Valéry trabalhar e beber café eram a mesma coisa. O seu trabalho, a partir de certa altura, era beber café.
Ele costumava dizer:
- Sem café não consigo trabalhar - e quem o ouvia julgava-o dependente dessa substância para fazer uma outra coisa.
Mas não.
O senhor Valéry explicava:
- Um corpo é tanto mais exacto quanto menos tarefas faz.
E clarificava ainda, exibindo as ideias filosóficas de que tanto se orgulhava:
- Uma causa vale menos do que um efeito e um efeito vale menos do que um acontecimento sem causa.
Por isso ele agia sem pensar nos efeitos da sua acção. Agia porque gostava da acção que fazia. E bastava-lhe.
O senhor Valéry, decidiu, então, desenhar uma chávena de café para provar a sua teoria
Depois de acabar o desenho, ele disse para si próprio:
- Há dias em que não percebo nada de mim.
E como se encontrava confuso, o senhor Valéry decidiu ir beber um outro café.
- É uma maneira de resolver as coisas - pensava.»
páginas 47, 48
O Senhor Valéry, de Gonçalo M. Tavares, Editorial Caminho, Abril 2002, 81 pág., pvp: 11,95€
Depois de O Senhor Valéry, O Senhor Henri, O Senhor Brecht e O Senhor Juarroz, o pilha sabe que está para breve a chegada de mais um senhor a esta família. Estejam atentos.
Até lá, alguém quer ir beber um cafézinho?
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