sexta-feira, abril 07, 2006

Reinventando Drummond I: Música II





Uma coisa triste no fundo da sala.
Disseram-me que era Chopin.


- «Encantador» – respondi secamente; e recostei-me...

O meu interlocutor falou então de um desgaste quotidiano,
Vaticinou que esta vida é uma porção de deveres,
Estabeleceu metereologias e furores de dentro e fora da alma,
Relacionou sistemas e culturas com os calabouços do Homem,
Argumentou que as estrelas são simples candeeiros esquecidos pelos deuses
Quando há muitos anos se deitaram para dormir para sempre...

Constatando, enfadado, que eu nada dizia,
Perguntou caçoando o bigode o que eu achava...

Eu considerei as contas que era preciso pagar,
Os passos que era preciso dar,
As dificuldades…


Tudo parecia tão pesado,
Tão complexo,
Tão inútil...
O que havia a dizer?

Assim,
Enquaderei o Chopin na minha tristeza
E adormeci,
Deixando ao homem do sonho a responsabilidade de pagar todas as dívidas
E ao meu aborrecido interlocutor
O copo de gin semi-vazio
Que talvez guardasse essa resposta
Que eu não soube
Não quis,
Não pude dar…

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