terça-feira, abril 19, 2005

Cadernos de Temuco - Pablo Neruda

DA MINHA VIDA DE ESTUDANTE

Sinos, sinos. Tocam os sinos
e todos os sons povoam o ar.
Sinos, sinos. As notas distantes
têm do gemido o dolente vibrar...

Passam os dias! O amanhã chegará.
O amanhã passará sem luz e sem ruído!
E as luminosas quimeras humanas!
E os gozos sempre, sempre prometidos!

Amanhã, amanhã! Os olhos cansados
há muito tempo já que estão fechados
e húmidos e tristes de tanto esperar!

Não toquem os tristes sinos distantes!
(Os dias passam como os sinos
tocam, tocam. Depressa deixam de tocar.)

Cadernos de Temuco, de Pablo Neruda (prólogo de Víctor Farías; tradução e notas de Albano Martins), edicão Campo das Letras (Maio de 2004), 251 págs., pvp: 16,80€

AQUELE

Porque era um rapaz bom e resignado
e tão tristemente costumava passar
sob o teu olhar, porque um amargurado
coração vias atrás do seu olhar...

tu nunca o amaste. Sonho dourado
que com brancas asas se vê adejar
foste para o pobre rapaz esquecido
com sua grande mágoa: tristeza de amar...

Mas no bulício das tuas alegrias
ou no fatigado rodar dos teus dias
amargos, tu nunca poderás encontrar

o grande carinho daquele ignorado
coração que sempre ficou amargurado
pela mágoa grande de amar, de amar...



Estávamos em 1919. Pablo Neruda tinha 15 anos.

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